Existe um tremendo
enfraquecimento das nossas certezas morais e intelectuais. As pessoas estão
confusas na distinção entre o bem e o mal, ou o que é certo e errado. A
dificuldade em fazer tal discriminação coexiste com a perda de um árbitro
moral, e portanto com a falência de um guardião da verdade moral, ou melhor,
com o desacrédito na existência de uma só verdade, de uma só justiça e portanto
de uma só ética moral nas nossas vidas. A ideia de que não existe uma verdade é
um lugar-comum na sociedade do século XXI, e rapidamente esta crescente
tendência se configura numa concepção libertarista baseada na propriedade de si
mesmo. O problema reside numa pobreza absoluta de compreensão de que o
bem-comum, não é castrador da “nossa propriedade”, isto é, a vida “está aí”
para a construirmos, para fazermos as nossas próprias escolhas, para nos
desenvolvermos e para assumir as responsabilidades que advêm das nossas acções,
mas não como seres isolados do mundo. O reconhecimento de que somos livres
pressupõe, como todos nós já ouvimos dizer, responsabilidade, e esta
responsabilidade diz respeito a todos os que nos rodeiam. A verdade é que consumidos
pelo jugo de sensações fugazes e egoístas, a falência de uma felicidade futura
é inevitável. Talvez, agora, eclipsados pelo caos das emoções não percebamos
que estas põem em causa o mais sentido profundo da vida e que, com isto, nos
tornaremos mas pobres. Mas, entretanto, por nós mesmos, aperceber-nos-emos de
que, aparentemente sem razões para nos sentirmos vazios, sentiremos! Longe das
amarras da responsabilidade, encontraremos algo muito mais atroz: a
incompreensão do porquê de sentirmos (ainda) um sofrimento humano. O drama que
a determinado prazo se irrompe na vida de qualquer um de nós é que nada nesta
vida tem uma compreensão absoluta, e com semelhante rudez ou simplicidade, a
lucidez deste facto figura-se como um terrível despertar para a reavaliação dos
nossos próprios valores. Existe uma linha muito ténue entre bem ou mal, verdade
ou pobreza absoluta, e é natural que todos nós nos sintamos muito mais vezes
atraídos pelo fácil, porque somos humanos, ora… demasiado humanos. E se a
lucidez é uma graça insuportável no que diz respeito à nossa interior
reavaliação, o choque com a realidade é-o superlativamente. A esperteza mundana
como uma virtude, a relativização como um valor, os artíficios como um modus
operandi, a política como o sine qua non para sobreviver, são o verdadeiro
inferno para o homem que se quer deixar guiar pelo espírito da divina sabedoria.
Mas onde o espírito habita, coabita a coragem, a doçura, a iluminação e a santa
liberdade. Porque não há maior conforto do que o de sermos fiéis à nossa
humanidade.