terei muito que dizer entre uma chávena de chá e outra. direi: que talvez comece a escrever um livro ou que vou começar a economizar dinheiro para comprar uma máquina fotográfica nova, ou ainda, que planejo conhecer Roma no mês de Julho. poderei contar-te os meus dias de chuva e de jazz, as leituras que fiz ou os filmes a que assisti. repetir-te-ei o relato do meu cansaço, das crises de impaciência e o meu mau humor que de vez em quando se exalta. enquanto tu estarás distraído, nos teus próprios planos, a devanear a tua história. esperarei, inutilmente, que me prometas tempo para que as coisas aconteçam. dirás coisas tuas, nomes teus, organizando os factos passados numa cadeia de tempo. acompanhar-te-ei, sorrirei e demonstrarei um mínimo de interesse por isso. abrirei mão de falar de coisas minhas, observarei cada palavra e cada gesto teu. sentirás fome, comeremos e discutiremos política. terei opiniões, e concordarei com os teus gostos por partilharmos os mesmos, imaginarei como escrever sobre os teus olhos de-cor-indecifrável, os teus sonhos e sobre as tuas pequenas manias. provocarei o silêncio, perceberás que estás a errar, ou talvez a tentar consertar algumas falhas do passado. estarás em outro ritmo, numa velocidade maior, numa ânsia de testar a liberdade. e nisso eu não te poderei seguir. irás cansar-te de mim. me deixarás. e eu voltarei a tomar insistentemente o meu chá, a sonhar, a acalentar pensamentos, sozinha como sempre estive.
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