O homem, demasiado homem

A vida constitui-se como uma totalidade onde coexistem paradoxos imensos que impelem o homem para um sofrimento atroz. Até a maior lucidez é apagada. Conhecermo-nos enquanto entidade humana é um espectáculo, onde nós somos o palco dos nossos pensamentos e emoções, que pretendem causar a impressão pretendida no espectador. Não é, portanto, uma questão de ser, mas de transmitir uma imagem. Imagem esta, que é mecanizada por uma necessidade inevitável de todos nós - a de sermos aceites, a de estarmos integrados, adaptados, e por conseguinte, a possibilidade de sermos amados. No entanto, desconheço necessidade que nos reduza tantas vezes à normalidade, à estandardização do que esta carência que nos distancia de nós mesmos, e que nos aproxima de todos os outros, também já distanciados de si. A expectativa de sermos aceites, tornou-nos comuns, limitou a nossa ascensão enquanto individualidades únicas e padronizou-nos. Trata-se de vivermos num mundo cada vez mais escuro, perante o qual a nossa visão vai involuntariamente ficando mais limitada. No entanto esta é uma limitação adaptativa. Esta duplicidade deve ser consciente, e não conheço nada que seja mais encorajador do que a irrevogável capacidade do homem para elevar a vida através do esforço para demonstrar a sua essência natural e pensada e não a incutida e artificializada.

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