Voltar ao mesmo sítio depois de passar precisamente um ano é sentir aquelas pessoas, aquela música na rádio, aquela piada, aqueles sorrisos, aquele primeiro olhar e abraço. É ter curiosidade em saber quem serão os próximos rostos e os próximos passos, o próximo sucesso, a próxima derrota. Agora que nos precipitamos para um novo ano, deixo-me de cinismos relativamente à felicidade que este nos trará, porque bem sabemos as dificuldades que temos. Mas o homem não se reduz a isso. Há uma felicidade maior, a suprema, que só por a buscarmos se torna real. Não vamos lá com juras, promessas, arrependimentos, não vamos lá com diminutivos, nem com mimosas palavras. Ajam, ajam deveras com o coração para que quando houver necessidade, já não sejam precisas juras, porque o sim e o não bastam. Acontece que como homens somos naturalmente humanos, mas também naturalmente divinos, e todos os os dias são parte de uma história, não deixem que alguém a conclua à noite aos enfermos, porque cada dia da vossa vida é um bocado da vossa história, e ninguém a pode contar toda. Era uma vez tu.
Não se trata só de sermos bons, conscientes, justos, moralmente correctos e outras possíveis proezas semelhantes. Não vamos contudo supor que o peso desta convenção não é suficiente, no entanto o grande objectivo é não imitarmos modelos. Tu és o arquétipo de ti mesmo, o protocolo, único e singular. Trata-se, portanto, de superar os modelos. Aprender com eles para os ultrapassar. Claro que a esta mentalidade se parece arrastar um egoísmo próprio, numa altivez e auto-afirmação ditada especificamente por cada um de nós. Contudo, importa reconhecer que só o querermos ser melhores (no sentido etimológico da palavra) pode justificar e evidenciar a confiança do homem em si próprio, nas suas possibilidades inventivas, na capacidade de desfazer ilusões inibitórias e teias de ignorância. Todavia, não é um ser por excelência que fará a diferença, nem sequer o mais ilustre. O ideal humano é o retrato de um esforço individual para uma mesma questão fulcral. Esta é a minha fé, a fé no homem. E por isso, procuro representar a crença no valor do mérito e do esforço - a fé na acção do homem. Não obstante, poucos chegam a atingir esta visão, que em teoria, até nos aparece como algo acessível a todos. O homem que rasuramos torna-se muitas vezes uma figura solitária, encarnando um tópico humanista de desprezo pela vulgata, isolando-se, hesitantemente. Não há dúvida que cheguei a uma contradição, o problema afigura-se-me: Identifico-me com a substância que escrevi até então, como com as dúvidas sobre os valores que inspiram a mesma. A mais pura das verdades é que não há uma recompensa, com um sabor de plenitude, compensando as misérias e sacrifícios. Isto é, aqueles que realizam uma obra notável no plano da realidade e que se sacrificaram pela verdade ficam confinados a um plano real profundamente decepcionante, ingrato e injusto. Na realidade, a mais pura, nua e crua verdade é que somos humanos.
terei muito que dizer entre uma chávena de chá e outra. direi: que talvez comece a escrever um livro ou que vou começar a economizar dinheiro para comprar uma máquina fotográfica nova, ou ainda, que planejo conhecer Roma no mês de Julho. poderei contar-te os meus dias de chuva e de jazz, as leituras que fiz ou os filmes a que assisti. repetir-te-ei o relato do meu cansaço, das crises de impaciência e o meu mau humor que de vez em quando se exalta. enquanto tu estarás distraído, nos teus próprios planos, a devanear a tua história. esperarei, inutilmente, que me prometas tempo para que as coisas aconteçam. dirás coisas tuas, nomes teus, organizando os factos passados numa cadeia de tempo. acompanhar-te-ei, sorrirei e demonstrarei um mínimo de interesse por isso. abrirei mão de falar de coisas minhas, observarei cada palavra e cada gesto teu. sentirás fome, comeremos e discutiremos política. terei opiniões, e concordarei com os teus gostos por partilharmos os mesmos, imaginarei como escrever sobre os teus olhos de-cor-indecifrável, os teus sonhos e sobre as tuas pequenas manias. provocarei o silêncio, perceberás que estás a errar, ou talvez a tentar consertar algumas falhas do passado. estarás em outro ritmo, numa velocidade maior, numa ânsia de testar a liberdade. e nisso eu não te poderei seguir. irás cansar-te de mim. me deixarás. e eu voltarei a tomar insistentemente o meu chá, a sonhar, a acalentar pensamentos, sozinha como sempre estive.
se hoje escrevesse o que sinto, mostraria o envelhecimento precoce do meu coração.
Ainda não aprenderam a ler-me: tentam abrir a porta com a chave que trazem no bolso, pequenina, estreita. E surpreende-me que não vejam que basta empurrar a maçaneta com um dedo. Não tenho tempo, nem paciência. Não faço a menor ideia de quase nada, sou burra. Não estou a brincar, é a sério. Nem sequer aprendi a tomar conta de mim. O que será morrer, morrer mesmo? Tão esquisito tudo, tão estranho. E mais perguntas, mais perguntas sempre. O que seria de mim se não vivesse, povoada pelos meus lobos negros? Agora, e até que não morra, não cessam de rondar-me: sinto-lhes a respiração, o cheiro, a baba. Sinto-os roçarem-me. Vejo-lhes as órbitas amarelas, os dentes. Os corpos grandes, grossos. Trotam-me em torno, avançam, recuam, não me mordem ainda. Estiveram nos meus sonhos, estão aqui agora. Tesos, à espera. Sei perfeitamente o que querem. Querem justiça. E tudo o que escrevo é uma tentativa de perdão. Mas não, não me perdoo, enquanto na minha memória  ecoarem  os lobos. E os vivo, neste puro amor de que sou feita. 
A mim tudo me parece esquisito. Caras conhecidas, caras desconhecidas. Até que ponto conheço as caras conhecidas? (Desconversei um bocado com as mãos a falarem sozinhas porque eu sou em silêncio). Qualquer dia imobilizo-me a meio de um passo, a meio de um gesto, numa rua qualquer ou numa passadeira de peões, com os automóveis a buzinarem.
gosto destas horas de exaustão espontânea, quando a noite cai e traz consigo a sensação de dia cumprido: o corpo e a mente entrelaçam-se num entendimento comum, numa atitude altruísta e fantasticamente humana.
Não sei onde é que tenho a cabeça, perdi-a, entretanto, pelo caminho. Quero existir sem erros e para isto, fingo. Disfarço-me de máscaras ilimitadas, visto que não há um número necessário e suficiente, porque todas elas correspondem a diferentes níveis oscilantes do meu ser. No entanto, não há criação que seja perfeita e consequentemente real. Tenho, somente, esta arte de conciliar mundos inconciliáveis, em viver inadptada, não só em mim mesma, mas entre esta sociedade pateta, ignorante e incapaz. Contudo, faço parte dela. As coisas aparecem-nos, evidentes e claras na teoria, mas na prática tudo se derruba, desmorona, abate-se. Queria pessoas que me fizessem acreditar nos outros e em mim mesma. Queria acreditar não só nas palavras mas também nos factos. Busco o impossível, o inconcebível e inalcansável. Fingo para ser livre. Pouco me importa se é só em mim. Porque é em nós que é tudo e é em nós que há um talvez que se torna concretizável.
Há pessoas que vingam a nossa existência por serem capazes de nos transportarem para um infinito particular. Há pessoas que nos lêem o pensamento, que adivinham a nossa intimidade, que captam os nossos instintos quase ao mesmo tempo que nós. Mas há pessoas que, além disso tudo, nos podem magoar como ninguém o faria, que nos podem ferir de morte, que podem apanhar-nos a confiança e amordaçá-la.
Esta é a maior viagem da tua vida. Se olhares para trás vês todo o percurso transformar-se em apenas pequenos pontos. São assim as coisas mais importantes da vida, de um momento para o outro tornam-se nos mais simples momentos. Nos momentos irrepetíveis e efémeros. Nas vidas entrelaçadas e inimagináveis e na fugacidade de todos os sorrisos. Nas gargalhadas, nos abraços inebriantes, na fantasia inesgotável que nos percorreu os segundos, nas histórias que ficam gravadas em nós. Balanças as pernas de entusiasmo ou será de ansiedade? Os olhos irradiam ternura, sonhos. Sobretudo sonhos. Pensas agora em todas as palavras de encorajamento que ouviste durante todos os anos de existência, desde o dia em que deste os primeiros passos, ao dia em que não havia mais nada a fazer, senão decidires esquecer o que tu pensavas ser o amor da tua vida.... gastaste tudo o que tinhas a gastar, fizeste coisas impensáveis, correste riscos e passaste noites em branco, sonhaste acordada, abraçaste, choraste, e agora há de novo um horizonte lá ao fundo. Esta viagem de que todos falam só o teu coração conhece de cor, só os teus olhos a saboreiam, só tu a saberás viver. Todos os dias são as maiores viagens da tua vida.
Hoje, aprendi que nunca se deve evitar um 'gosto muito de ti', ou um 'adoro-te'. A alma às vezes atraiçoa-nos, e o orgulho quase sempre nos prende. Mas dizermos o quanto gostamos de alguém tem uma tamanha importância que infelizmente só descobrimos depois de já não o podermos fazer.
Que interessa o lugar onde repousarão as nossas cinzas? Quando morrermos serão as palavras, os actos que falarão aos vivos amados por aquele que morre. Demitimo-nos muito deste sentimento presente de cumprir o nosso dever de viver - viver, não é somente uma declaração de presença. Estou farta desta espécie de amor de segunda (e peço desculpas, por hoje em dia, não ser mais do que isto). Exageramos nos sentimentos fracos e nos pedidos de desculpas. E esquecemo-nos que é o amor que conduz ao conhecer. O amor começa sempre antes. Dizem, ainda, alguns insípidos alguéns, coisas belas e verdadeiras, em alegorias transbordantes de imaginação, instigando o desassossego do pensamento. Porém, não os compreendemos! Estas coisas belas são sempre interrompidas pela beatice e pela pequena história da politiquice, e hoje, como já ouvi dizer, pela malabarice. Há a aflição das hierarquias do poder terreno! Que vergonha, não aceitarmos a nossa própria humanidade, buscadora incansável da justiça e da alegria. Que interessa esta mesquinhice humana? Os grandes não se desfazem em cinzas, e é isso que os pequenos poderes não perdoam, por serem e se saberem mortais, e que haverá quem lhes aponte o dedo e lhes desmascare as farsas. Mais do que isto, em tempo de pressas sôfregas, são as palavras, os actos. É através destes que seremos homens. E como homens nos faremos livres. E o amor que vive connosco, em nós, por nós, nos tornará ainda mais livres.Vê-se nos nossos olhos. Nós continuaremos a existir, porque o amor tem o dom de permanecer debaixo da pele e no brilho dos olhos de quem o guarda. Só isso se guarda: o amor e as palavras. A coragem de os viver por inteiro. O amor e as palavras exigem coragem. E nós sempre o soubemos.
perdemo-nos nos afectos que encontramos esporadicamente. no tamanho dos abraços, no conforto de um beijo, na calmaria de um olhar. um qualquer gesto com as mãos, um afago, um repouso, um apoio sincero de dedos entrelaçados e um acalentar do corpo. isto que vem da alma e jamais se diz. isto que vem de nós, dos nossos anseios, das nossas procuras. isto que eu e tu deveríamos, serenamente, todos os dias, ao entrar em contacto com os outros, sentir. é desta pele com pele que nasce a poesia do mundo. quero viver poeta, quero morrer poeta. e que assim seja.
Irremediavelmente, nenhum conhecimento é suficiente quando nos precipitamos a amar alguém.
Creio que foi o sorriso,
sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nú dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.
Eugénio de Andrade

Nada do que se passou foi importante. Não foi, eu sei que não foi. Eu assumo e já não mascaro a situação com uma fila de "mas" idiotas e desnecessários. Depois de um mês em que tudo correu mal, queria apenas não precisar de jogos, farsas, sarcasmos inúteis e ludibriantes. Não queria porque todos esses mecanismos cansam e tornam tudo ainda mais complicado do que realmente é. Quando digo que não foi importante, é porque não foi. Chega de massacres, de martírios. Não me vou submeter mais a isso. Sei das imbecilidades que já fiz, e já lidei com a catadupa de sentimentos que isso acarreta. E na verdade, somos humanos! Não é suposto sermos plenamente honestos, bons, cristãos ou outras lindezas do género. É pressuposto errarmos e termos a consciência que somos falíveis, mas perante isto, ousarmos construir um ser melhor. Por isso parem, suas malditas vozes desonestas, que provocam uma conjuntura humana que vive somente com base em aparências. Acredito que essa censura é resultado de uma busca mítica do homem em querer ser imortal, tal qual deuses na terra. Porra, não sou deusa, nem santa! Esta busca torna-nos desumanos e a questão agora já não se prende com a razão, mas com o que se sente! É preciso sentir! Irremediavelmente e irrepetivelmente. Quando morrermos, iremos todos nús, tal e qual como nascemos, desprovidos da desonestidade e ingratidão do mundo.
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenha calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenha agachado,
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe . todos eles príncipes na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que, contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ò príncipes, meus irmãos,
Arre estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos . mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos, Poema em Linha Recta
há certas lembranças que se sustém no limiar do esquecimento, mas que, porém, jamais se esvaem por inteiro. entranham-se na memória e por lá constróem o emaranhado de cenas de que se serve o passado. ao longo destes anos fui como uma profeta a indicar um caminho certeiro aos seus discípulos. toquei fogo, andei sob águas profundas e voei como uma águia. chorei, caí, perdi-me e encontrei-me no fim. fui mago e bruxa das mil e uma noites. uma reencarnação do sofrimento, uma febre de entusiasmo precoce. fui tudo o que possa querer ou imaginar. estas memórias costumam traduzir alguma espécie de importância, de teor relevante, de arquivos imprescindíveis ao sustento da minha alma. presumo que é a isto que se pode chamar de eternidade: algo que fica cá dentro, imergido, conservado, embrenhado, e que nunca nos deixa. e torna-se tão bonito o seu desabrochar espontâneo, num instante de reflexão ou mesmo por uma mera distracção. são como pedacinhos de vida, fragmentos de respiração, de pulsação, de sentimento. o drama de cada um, a história em relevo, o enredo consumado. agora, olhando para trás, vejo algo mais do que um sentimento de dever cumprido, vejo também uma pessoa que já não reconheço em mim. ela ficou lá atrás, por detrás do passado, aquela velha e antiga perdida, aquela insegura de si mesma, presa a contornos de segunda e a embaraços permanentes. somos matéria em constante mutação, deixamos e recebemos. percorremos ciclos a fim de alcançarmos uma beleza, sobre a qual não há analogias suficientes. nada seria o amanhã se não fosse o ontem. e é no pretérito que busco sentido para continuar adiante, na inóspita certeza de que o caminho é para a frente. poderei ser,  uma versão melhorada daquilo que os anos me trouxeram ou me tiraram, também.
Se por cada desejo que pedisse tivesse de abdicar de algo na minha vida, à minha volta nada seria a não ser um completo deserto de escuridão.
Um e outro bêbado regressavam a casa, errando pelas ruas desertas, inadaptados ao espaço. Pus-me a observá-los na dissipação do meu olhar. Um vinha da missa e da tasca, outro do campo e da sua colheita. Caminhavam ambos num mesmo ritmo, num corpo descambado pelos trabalhos injustos, pesados. E eu pus-me a imaginá-los na sua nudez de uma praia, sem tortuosidades da vida, desconjuntamentos e rudimentos. Segui-os pela entre abertura da porta. Cambaleiam hesitantes, bolinando à direita e à esquerda, parando, às vezes, equilibrando-se no apoio fraco um do outro. Reflectindo... avançando, recuando à procura do caminho certo que se apresenta a dobrar. Agora mais perto, ouço-os a trautear sozinhos. Ou mal dizem a vida ou cantam, avançando às guinadas. Desaparecem-me da vista, a certa distância. O resto dorme ou se refugia na sombra, nas tabernas do lazer, no fundo das casas.
por norma tudo o que é sobre analisado tende a ser destruído. comecemos pelos habituais 'talvez' à eterna juventude, ao amor, à felicidade. trata-se de uma visão sonhadora da vida, natural, humana. porém, soturna que se adivinha a priori, como um talvez que se degenera em impossibilidade, transfigurando-se num 'não'. há um sofrimento extra imposto por nós próprios. o sonhado sofre dos mesmos males que o vivido, que o real - um porque é inatingível outro pela sua frivolidade. os sonhos, a idealização da vida, não são concretizáveis, conclui-se. 

Quem és tu que danças descalço na noite escura? 
Porque é que te deleitas com o cheiro e o sabor do sangue, dos corpos esventrados e inertes? 
Porque é que cantas sobre o silêncio tumular dos cemitérios que criaste? 
Ouves os gemidos que o vento traz?
No sussurro das árvores, na fonte onde corre um fio de água, no lago onde a Lua se reflecte, ecoam gritos distantes... 
Ouves? 
Caminhas sobre fogo. Incendeias as searas. Deitas-te no chão com um sorriso de criança, embalada pelo crepitar das plantas que ardem. 
Olhas para o céu com o olhar vazio e perguntas porquê vezes sem conta, até caíres de exaustão. 
Cruzas-te com rostos. Pairas sobre o mundo. Feres com a tua espada. 
Nunca páras. Nunca te deténs. Nunca olhas para trás, só vês em frente um caminho interminável. 
Quem és tu que, no crepúsculo de chumbo baço, uiva de dor?
T. Miguel, Não te deixarei morrer David Crockett
nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio. um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil.
O sonhar pertence ao conjunto daquelas coisas necessárias da vida, onde coabita o santo e o profano.
não faz sentido manter toda esta emoção, este sentimentalismo barato, este monte de advérbios graciosos em prol do que sempre se dispersa, se esvai. não sou romancista, não sou dramaturga, muito menos escritora. não sou. estou longe desse universo. amar em vão, isso jamais. somente na ruína, no fim, no término amargo do sim. aquele não, que invade o corpo e que toca febrilmente o coração, estirpando-o, sufucando-o, degerando-o, até se rasgarem lágrimas nos olhos. uma falta de ar, uma perda de tacto e de consciência de tempo. imóvel e petrificada. estou dissecada, gélida, árida, sem textura. cansei-me desta ilusão.estou farta, exausta, confinada a um espaço sufocante. quero a falta de ar de quem corre e não a de quem ama. aquelas palavrinhas bonitinhas de outrora podem se resumir à insignificância do que traduzem, agora, eu quero palavrões. grandes palavras, cheias de raiva, furiosas por si, que não carecem de complemento, que ecoam sem esforço. vou encher-me de suor, na testa, nas costas, no peito... e todo o resto que sue! vou transpirar realidade, no esquecimento vulgar dos nomes e dos números, na convenção do arcaico modo burguês de ser e vou embriagar-me não por causas e reconhecimentos, mas por sede e sedentos. terei ideias. não me satisfarei com o pouco. não farei parte desta banalidade, desta vulgata, isso, que acontece diariamente nos quatro cantos do mundo, sobretudo aqui. aqui neste universo de gente hipócrita e mariquinhas (talvez, como eu). na sujidade, nesta imundice toda, que causa preguiça e falta de coragem. personificamos a vaidade, a luxúria rica de tão pobre. somos egoísmo e individualismo de uma só vez. é mais fácil ser assim, mais viável, esta postura única, unilateral, rasa, superficial. sem inteligência, sem arrebate, sem o som de tudo... o que vai além dos ouvidos. deixamos que a mediocridade substitua o carácter dos honestos, esses parciais sujeitos coadjuvantes. e faz com que tudo em volta seja exacto, desumano. anota em letras grandes o meu pedido, o de querer ser normal. e lê pra mim, em voz alta, o diagnóstico psiquiátrico de que: adoeci!
aprende-se a esperar com o tempo: ironicamente ou não, é com ele que atingimos a maturidade necessária, para entendermos que nada é para já.
Apenas permaneço perdida perante estranhos, e ao mesmo tempo deixo-me envolver, estaticamente, pela escuridão. Já não me reconheço mais, nem a mim nem a este lugar. E este é o caminho de salvação da alma. Em mim tirando o facto de sentir, já não sinto nada, circunstância esta, que ninguém, aqui, está em condições de conhecer. Entre mim e o os outros, dir-se-ia que pertencemos todos ao mesmo mundo. Mas cedo vi que as vocações não coincidiam. Inquieta, perguntei-me pretensiosamente, como se pudesse escolher, e ser dona do meu destino, como poderia ser mais feliz: ignorando ou sabendo. Numa primeira instância, nem era necessário responder, não sou feliz, não o serei. Porém, busco momentos felizes. E o nada que sinto? Não sei... É um nada que corrói.
E eu disse, no alto de um pôr-do-sol de final de tarde, que queria ser feliz, que queria partir para aquele mar a que me prometi. Cá, no meu íntimo queria, piamente, acreditar que seria cumprível, e que os desejos aparecem em forma de realidade, quando lutamos por eles, com todas as forças que possuímos. Sempre fui cobiçadora de destinos difíceis e isso inquieta os que me rodeiam. Sempre me questionaram se estas ambições que possuía seriam capazes de serem levadas a cabo. Eu não sabia e não sei responder. A primeira coisa que me ocorria no pensamento era que me sentia só, na minha pura juventude, amargurada e traída. Porém, não vou, desistir daquilo que me faz respirar profundamente, todos os dias, e me faz levantar da cama para mais uma luta diária, sem medos nem receios de críticas e maus olhares, denunciadores da infímia vontade de me cortarem as pernas, prendendo-me a um sítio eterno. Pois é esta tamanha vontade, que torna momentos intactos, fracções de segundo eternas, porque são sentidas com tamanha intensidade que petrificam e nenhuma força jamais as resgata!
Em ti, no recôndito de ti, no íntimo inatingível da tua pessoa. No mais oculto e indesvendável de quem és. Tu, aí, derramado sobre ti, no cônclavo do teu ser recluso. Estendes-te, olhas-te sem ver, para a tua existência não dissipar. Cerras os olhos à dormência e é sobretudo quando te vês. Onde podes existir na liberdade de ser. Estás aqui, no silêncio da Terra, ouço-te a existir na dispersão de mim.
Não oiço ninguém, nem uma dessas vozes erra-dias que vêm na aragem - chamamentos, ralhos - tudo em silêncio sob a praga do calor. De súbito, desce sobre mim a mais intensa melancolia da desilusão, uma dor terrível, e a minha imagem fugitiva. E de novo, a minha súplica humilde - não caias! É mesmo incompreensível, e só, de certo, ao fim de muitos anos é que se irá entendendo. E à medida que se entende, permanece a mágoa que se aceita. A tristeza é apaziguada no cansaço e num certo retorno mental. Estou num esvaziamento total de qualquer interesse. Porquê? Para quê? Por nada! Para nada. Mas não perguntes. Felizmente para as pessoas sensíveis, dessas que sempre aplaudem espectáculos incómodos, sejam eles de que natureza forem, a língua,  só por si mesma, é razão suficiente. Não rezando, portanto, qualquer interrogatório ou torturas. E todavia, vejam vocês, estou a ponto de construir no meu nada de tudo, uma ideia de redenção com a memória do meu "eu", esse, que já nada é meu. A culpa pisa firme, parece ela que sabe aonde se dirige, como se seguisse o rasto do destino, aquele sempre confuso ir e vir de marcas e sinais, que é preciso observar com atenção para não estar a voltar para trás quem imagina avançar, sem desvios, directo, à morte.
doía-me a cabeça como nunca me doeu e ao mesmo tempo sentia-me ferida. a tentação de puxar as lágrimas como forma de aliviar aquela pressão que sentia no peito era mais do que muita, era simples, eu só queria chorar. estive durante aqueles segundos, de braços apoiados no parapeito, tão perdida como um corpo estranho fica quando se encontra, desapoiado, algures no universo. uma frustração e uma sensação de impotência percorria-me a espinha e a única coisa em que eu conseguia pensar - era que estava desesperadamente só, ninguém gosta de saber que está só, numa solidão quase irremediável. Eu quero estar sozinha, mas não quero estar sozinha. porque é que tudo em mim tem de ser complicado? São nestas fracções de momento que gostava de ser normal, como todos os anormais que se julgam felizes mas não o são.
daqui a precisamente 4 dias estaremos entregues à amarga rotina. não sei porque falo dos hábitos de uma forma extremista e pouco alegre, mas é assim que eu me entrego a ela (rotina) nos primeiros dias - de forma inacabada. canso-me facilmente das coisas que me rodeiam. sei que pode ser um pouco egoísta para quem me vê e tenta aceitar-me, mas a verdade é que me canso. canso-me da monotonia, dos dias iguais a tantos outros, da chuva, da conversa por obrigação e das vozes arrastadas de manhã. canso-me de pessoas sem objectivos, dos encontrões de ombro nas ruas, das filas de almoço, das estações de rádio, do jantar e dos debates políticos inconscientes. canso-me da guerra, da fome no mundo e das catástrofes naturais. canso-me da solidão, da paisagem que vejo todos os dias pela janela do autocarro, dos antipáticos e dos pouco cavalheiros. canso-me do mesmo cheiro a perfume, do meu perfume cravado na pele, das minhas manias e etiquetas. canso-me. canso-me. canso-me deste meu ser em rotina.
já sentis-te cócegas na alma, um desejo louco de ultrapassar limites, e de defini-los novamente. em parte porque és jovem, e porque todos nós queremos atingir a grandeza, viver nem que seja por um instante na certeza de que superei um medo. o medo. este é, de facto o nosso pior rumo - tarado e perverso. compadecemo-nos, perante ele, a ser, a sua carcaça, entregando-nos a priori, como vencidos. não compreendo a razão deste massivo temor. é o temer a existência do medo, que o fecunda. estou a caminho -  na minha vida, e encontro-me agora numa selva tenebrosa. porque sou falível, e errei. não vos saberei dizer como resistir. mas, suponho, que somente as lembranças das falhas é que façam ressurgir o medo. não tão amargo como a morte. porque ainda respiras. acalma-te, concede repouso ao teu corpo fatigado e retoma o caminho, mantendo, constante e plenamente o pé firmado, muda o teu desígnio. para te libertar desse temor, dir-te-ei, que se tens consciência que és, não te prives da tua própria vida. a tua alma não pode ser tomada pela cobardia, que muitas vezes, tanto nos oprime, e que tanto o homem transfigura e extravia como uma desculpa. porque te deténs? e porque não te armas de ardor e de coragem?
a palavra liberdade que se se profere complexa e pretensiosamente, pode ser obscena. pode ser nua, fria e não ter nada para nos oferecer. e assim o seu cheiro orgulhoso, que se faz deixar passar, atrai-nos de um modo que não sei replicar palavras. imponente, majestosa, na beirinha do horizonte, capaz de desafiar os séculos e os milénios. cumpre-se - não se cumpre. transfigurada em todas as línguas havidas e por haver, avança perante nós, consentindo que não terminássemos. A vida dos homens, é a vida dos seus desentendimentos com a liberdade: nem ela nos suporta, nem nós a conquistamos.
Não me quero deparar com incrédulos. Eu não quero controlar o desejo de mudar o mundo. Eu quero pessoas que se deixem consumir pela vontade, e que não temam, com os pés acentes no chão, escorregar e cair comigo. Pregamos avidamente o dogma imbatível da liberdade, a ausência de posse e de agrilhoamento em prol do querer que permeia o mundo dos libertinos. Porém no fundo, fugimos. Pensamos que jamais conseguiremos. E mal dizemos a vida. Mas reparem quão frívola ela é, quão imprevisível. Contudo, caminha, sente o teu corpo a tomar-se de certezas, o temor imponente no teu coração, deslumbra-te com o mundo. O teu espírito  habita as nuvens, tens em ti a força da vida, dos homens que respiram sem fim. A seu tempo quero estar quando conseguirmos, por sabermos que pensámos que era impossível.
Somos comuns, vulgares com um medo infindável de transparecer a essência da qual somos dotados.
Hoje dou por mim a pensar de onde radica este meu desejo de ser diferente, de pensar, de querer crescer. Nada disto foi premeditado, não escolhi pôr tudo em causa, ser insatisfeita e de viver em pleno conflito, constantemente. O natural é que todos sejamos de facto assim, eu apenas, não suprimi essa vontade. Sou pretensiosa, ambiciono a felicidade, quero fazer, quero ser, quero viver. Posso falhar. Mas pior que isso, é a purga de não o ter tentado. Quero ser melhor. E se é este o meu ímpeto, se é este meu estado interior de agonia, então eu irei, eu chegarei mais longe, porque quero saber quando estarei a um passo do coração da vida.
não evito o coração aos sobressaltos, a paixão avassaladora pelos pequenos pormenores, os silêncios nas palavras de ouro e as esperas intermináveis.
volto porque me incitam as palavras e todo o sentimento que ressoa aqui dentro. aqui, onde sempre guardo um bálsamo energético e pulsante, que bombeia sangue e inquietação. volto porque a ausência sabe-me a sal e, ainda que o regresso seja embebido em água do mar, saceia, porque "sou", porque "estou", neste percurso de presentes constantes e de hiatos fantásticos que me põem à disposição da vida. volto porque não sei viver sem! volto para alimentar este vício que me norteia por entre os caminhos que tomo, e que revelam uma sede incrivelmente sôfrega e que me faz embriagar-me na sobriedade. volto porque resido nesta casa de tantos fenónemos, de tantas lembranças, de tantos disfarces e "robertos", de tantos vãos do meu coração. volto para poder respirar com a simplicidade de outrora, desafogando os sonhos, os amores e os receios. volto para dizer que fui, como tantas vezes, e que voltei, como tantas outras, para mais um presente de ventos corriqueiros, para desgastarem o meu corpo, preso neste tempo, que se arrasta e que se estende diante dos nossos olhos. volto para não ser parte desta multidão de "cães", "cadáveres adiados", "cabeças a rolar pelo chão" e de uma "mocidade pálida". volto para não ficar inerte, eu não careço de mobilidade, tenho os pés assentes no chão. e volto para aprender: o tempo é móvel, não posso viver um presente, retomando sucessivamente ao passado. tudo flui, nada permanece o mesmo... portanto não estamos a horas de nos compadecermos. eu volto porque não estou satisfeita!

parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. já ninguém quer viver um amor impossível. já ninguém aceita amar sem uma razão. quem quererá, afinal, um amor que nos roube a metade mais selvagem e inocente de nós? quem quererá, um amor puro, estúpido, cego e doente?
passamos demasiado tempo a desejar alguém do nosso lado, não por mera companhia, mas por uma série de pequenas dependências que trazem algum sentido às conquistas e às perdas. ansiamos alguém com quem dividir as experiências quotidianas, alguém para desabafar sobre qualquer coisa, alguém com quem compartilhar palavras e sentimentos e sentir alguma reciprocidade. essas pessoas aparecem. algumas por algum tempo, outras pelo sempre que durou, mas nunca numa constância suficiente a nos fazer acreditar que possam ser insubstituíveis. há aquelas que fluentemente passam, há as que passam e deixam um tanto, mas não há aquelas que fiquem por completo dentro de nós como deveria ser. os encontros começam a ser tão relativos, que o mais fácil, o mais credível, é que estamos talhados para os desencontros. e de tal forma que nos imerge uma imensidão de desespero, de desistência. porém, se hoje eu vos puder dar um conselho eu digo-vos, para nunca desistirem de encontrar o amor nas pessoas, nem de, sobretudo, deixarem de doar o amor sincero que vem de dentro. por mais que doa, eu digo-vos: amem!
Não me perguntes, porque nada sei
Da vida,
Nem do amor,
Nem de Deus,
Nem da morte.
Vivo,
Amo,
Acredito sem crer,
E morro, antecipadamente
Ressuscitando.
O resto são palavras
Que decorei
De tanto as ouvir.
E a palavra
É o orgulho do silêncio envergonhado.
Num tempo de ponteiros, agendado,
Sem nada perguntar,
Vê, sem tempo, o que vês
Acontecer.
E na minha mudez
Aprende a adivinhar
O que de mim não possas entender.
Miguel Torga

Falhei. A chuva da madrugada fez-me acordar, estendi as mãos e o pulso era esporádico como uma gota de orvalho. Enroscei-me no meu canto, juntando os joelhos com o peito, e assim perpetuei. Como uma pedra. Supondo que como tal, não se prendia a mim a responsabilidade, a consciência, a culpa. No entanto, desesperei, dei punhadas no peito e na cabeça, e senti a minha alma a corroer-se, faltavam-me as palavras que a tinham inaugurado. Não conseguia dizer quem sou e nem dei com as palavras que o melhor explicassem. Falhei. Por baixo do que exponho de mim, há um "eu" que calo. Qual deles o mais mudo? A dúvida é o privilégio de quem viveu muito. Será por isso que não consigo convencer-me a aceitar como certezas o que para mim mais se parece a falsidades. Quem sou eu? É mais do que óbvio. As dúvidas, as suspeitas, as perplexidades, as transgressões, os recuos, estão cá. No final errantes somos e pela estrada andamos. Todos, tanto os sábios como os ignorantes, os santos como os pecadores. É inevitável, fatal como a decrepitude. E a vida. Agora a língua essa é que é bífida. O mesmo é dizer, traiçoeira, aleivosa, desleal, pérfida e outras lindezas equivalentes.
Equilibrar-nos-emos como loucos, como justos, nesta calçada de perdões e lamentos. Cheios de esperança, é assim que temos lidado com a vida. Aguçamos os sentidos e estendemos os dedos. Dedos livres, tão livres que parecem pequenos farrapos de uma alma que se esfuma. Dedos livres que ondulam com um amor metódico, melódico, complexo, irremediavelmente e erradamente irreversível e irreparável. Estes dedos são o teu equilíbrio, são as tuas raízes. 
no ano passado ansiava por realizar sonhos. este ano, por esta altura, sei que ainda não os realizei. no próximo ano espero não estar a dormir.
 é sofrego o olhar
violento o espasmo do real.
deixem-me nascer,
que preciso de me reinventar!
que não posso com o nosso desgosto,
e a pena de todos os outros.

não deixes tudo ficar como está, eu sei que precisas de um mundo novo. sei que sentes que viverás perpetuamente entre as mesmas paredes. no entanto, digo-te, sinceramente, que vale a pena lutar pelos nossos desejos. encarar de frente as coisas boas e desejáveis e fixar o olhar sobre as coisas desagradáveis e que nos afligem constantemente. isto porque saberás pelo menos que não vives uma farsa, mas que vives feliz perante as incompreensões, falhas e dificuldades. o objectivo é ousares. atreveres-te a estar bem, nem que isso dependa do facto de ultrapassares limites que são reprováveis para ti. estas não podem suprimir a tua felicidade. tu pertences a este mundo, sabes quem és, este tem que ser o teu verdadeiro ímpeto. deslumbra-te com o caminho bifurcado, e segue em frente, segue. não deixes que a rotina que todos nós conhecemos te consuma. o eco do teu mundo não te pode deixar exasperada. não há nada mais deprimente, que a irrevogável certeza de que podias ter alterado o teu mundo, que podias ter cumprido os teus desejos. não fiques expectante. sobressalta-te, tu consegues, e conseguirás o que pretendes de ti. existe sempre magia no teu trilho.
Atreve-te... a pensares por ti próprio e rejeita tudo o que seja alheio!
Desprende-te... das receitas, das fórmulas, preceitos, ditames, dogmas, dos clichés, das retóricas vazias de sentido!
Destrói... a cobardia e o medo que te impedem de dar um passo em frente...ou dois
Afasta... a sonolência epidémica que te corrompe ...
Liberta-te... dos grilhões da cegueira que te impedem de veres com os olhos do pensamento!
Coíbe-te... de dares assentimento à opinião irreflectida da maioria só porque é a maioria?
Arrisca... e sai da comodidade em que sempre viveste e pior, sem te dares conta!
Assume... a coragem de te servires do teu próprio entendimento!
Encara... a tarefa inalienável de compreenderes em vez de contemplares!
Resiste... ao fácil, ao óbvio, ao dado, ao cómodo, ao vil...
Luta! Persiste!
Sente a grandeza de uma alma que se mantém firme na procura incessante da sabedoria!
Ana Rita Raposo
entre os meus dias alguns são de facto para sempre. sobre eles anoto, nitidamente, a memória das falhas, onde sabes que erras e lamentas... não lamentas o erro em si mesmo, porque sabes que o homem é falível, e crescerás, mas lamentas a decepção perante os que te rodeiam, como se tivesses algo a provar-lhes para sentires que respiras. mas não precisas, não te gastes em constantes provações aos outros daquilo que podes ser ou que és. prova a ti mesmo, se errares, não peças desculpa, não te dês por perdido ao mundo, porque da próxima, não cometerás o mesmo, não cairás no mesmo buraco, e da próxima sobreviverás. entre os meus dias alguns são de facto para sempre. sobre eles anoto cuidadosamente os desejos, a intensidade da vida. é uma questão de intensidade. só assim nos poderá voltar a florir o coração e a sensação de ascenso repete-se.
Morre lentamente
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.

Martha Medeiros


Os dias de sol, os dias de chuva. A nostalgia do vivido e antes sonhado. A dor do erro, o arrepio, o remorso e o vómito. A frustração, os desejos, a água na boca. O cheiro do verão e o calor do Inverno. As músicas que vêm com o vento, a sensação de desespero, o esquecimento, a apatia e crescer. A janela aberta, a efémera vida, a decrepitude do chão. O nevoeiro basso, as dúvidas. A vergonha, as coisas que querias explicar mas que não têm explicação. Tudo o que tenho para dizer e não disse.
arranja tempo, porque se algo que algum dia pedirás será isso. arranja-o, e encara-o com desejos despidos de hesitações e disfarces. coloca-os nús e desprovidos de medo na tua vida. não penses, somente, escreve-los, grita-os, desenha-os... se fores tu, a tua "tábua rasa", faz das tuas mãos a obra, o desejo, e corre, atrás daquilo que mais ambicionas na vida, aquilo que anseias, desde que te lembras, desde que te lembras de sonhar e de tornares num ser singular. e se fizeres muita questão que tal aconteça, acredita, isso acontece. as tuas mãos irão  assimilá-lo e não tratarão dessas tuas ideias como algo supérfluo, como um capricho, mas sim como uma real necessidade do teu ser, que respira nas entranhas, que pulsa na pele. trata a vida por tu e ela retribuir-te à o mesmo amor.