"Amor como em casa"

Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.

Do Pina, "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

"Essa é a grandeza do ser humano!"

Guernica, Picasso
As consciências sopram onde querem. E há consciências que graças a Deus, não se confinam a capelinhas, beatices e politiquices em geral. Pessoas que sabem que a sua obra fala por si. Pessoas com bom senso. E é o bom senso que deve imperar. Em tempos de ultra-inter-supra necessidade de obras, de concretizações, de factos, o dizer-por-que-quero-dizer tem menos valor que o silêncio. Na vida, não podemos viver de intencionalidades inócuas. Não nos iludemos com as palavras. Já sabemos que as contaminamos com os tiques do nosso egoísmo. Agora, as obras... criam coisas, efectivam mudanças, contrariam o status quo, negam e transformam. Aquilo que é vigente tende sempre a enraizar-se, a padecer de uma espécie de autoridade. Mas reparem, na vida, quando nos referimos ao que está, nada existe absolutamente, a menos que o desejemos assim. A fatalidade da imobilidade será a nossa própria fatalidade - absorvidos pelo que não queremos e pelo que não consideramos certo, viveremos num tremendo inferno. Providenciem-se de coragem, de bom-senso, de respeito por vocês mesmos, por aquilo que são! E ajam!  Roam-se de escrúpulos por cada vez em que não agiram! Por cada vez em que não agiram de forma rigorosa e apaixonadamente! Honestamente, muitas vezes, o "medo que temiam" pode cumprir-se. E sem dúvida, muitas vezes o que realizaram será aquém. O esforço e a exaustão inexorável irá parecer-vos, também maioritariamente, em vão. E daí? Se tens essa inquietação, se ela permanece em ti, é porque flui de uma força decorrente de evidência daquilo que deve ser tornado real. Nunca se esqueçam: estão vivos! E que essa certeza seja a força  para continuar, num labor que é humano, e por isso, imperfeito! O interesse real da vida está em pensar no mais justo e em agir em conformidade, independentemente das prospectivas ínfimas de relevância e notoriedade que terá. É fazê-lo porque é o que tem que ser feito! Porque como dizia o António Manuel Pina: "Essa é a grandeza do ser humano!". A grande dignidade da vida, reside na plena consciência que fizemos por nos cumprirmos. Essa paz não é dada. Conquista-se!