Questões relativas ao tempo

Existe uma espécie de sentença na vida, algo inevitável, e que não deixa margens para dúvidas: a vida resume-se a sucessivas despedidas, sem o consentimento do adeus. Quando se experimenta viver, experimenta-se uma encadeamento não premonitório de abandonos. Abandonamos a nossa infância, os nossos pais, a nossa segurança e conforto, e somos incapazes de delimitar o momento em que isso ocorre. Talvez, tenha sido no dia, em que entrei para a Universidade, ou no dia em que ganhei o meu ordenado, talvez tenha sido. Mas parece-me que não, acredito que tudo tem um historial que se arrasta no tempo. Nada é imóvel! Tudo é dinâmico! Nada pára para te conceder despedidas, nada pára ao ponto de perceberes que algo já "acabou" e que um novo ciclo "começou"! A ida para a universidade, o primeiro salário, são meras referências, não são a consumação de nada, aliás, os dias, as horas, são pequenos nadas. Tudo se afigura como algo extensivo e contínuo, mas que se precipita ao longo da vida em pequenos acontecimentos, que dado o seu espectáculo, sublinham e revelam com maior evidência as "coisas da vida".
Isto, para vos dizer, que de facto, tudo se dá em  pequenos saltos, numa espécie de fragmentos de vida, que não se esperam, que simplesmente, acontecem, segundo o que fazemos dia-a-dia. O grande remédio universal para tudo, é o trabalho, é a realização. E devemos sempre trabalhar em ordem a sabermos que fomos fiel ao que queríamos. Em ordem a não nos arrependermos de ter deixado algo por dizer ou algo por fazer. Acima de tudo, devemos saber que somos dotados de espírito, de energia, de agilidade de pensamento, para trabalhar... não em direcção à morte, mas à vida!