Eternidade

Passamos demasiado tempo a desejar mais tempo. Desejamo-lo, e é de todas as coisas, aquilo que mais desperdiçamos. Talvez porque nos segundos, nos dias, encerramos demasiadas memórias, caras e lugares, palavras, cansaços e ânsias... E nunca nada nos parece ficar completo. Nunca nada nos parece realmente construído, ao ponto de nos fazer sentir satisfeitos.  Nunca nada nos parece totalmente vivido e aproveitado. E tudo devido à irritante capacidade que temos de nos preocuparmos demais, de racionalizarmos tudo ao ponto, de lhe retirar o mistério. Na vida nada está decidido, nada nem ninguém está terminado. A perfeição inerente à nossa existência é esta! A possibilidade de nos (re)criarmos, de contemplarmos o passado e de sabermos que há sempre algo melhor que podemos fazer, e de saber que cada um de nós se pode sempre tornar melhor. Portanto, o cérebro que possuímos armazena milhares de memórias, que consistem em fracções de tempo indispensáveis à nossa própria felicidade. De pouco serve preocuparmo-nos com o que ainda não fizemos. O único futuro que importa é o que temos no limiar dos nossos dedos... o hoje!

E no hoje, devemos não nos esquecer que todo o efémero tempo passado, já encerra em si uma eternidade.

“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir” José Saramago