"Segunda ingenuidade"

Quantas vezes já não ouvimos a frase cliché "a vida é simples, nós é que a complicamos". Bem não é cliché nenhum, cliché é tendermos todos para este emaranhado de complicações, de intelectualizações, de artifícios e máscaras. Ser simples. É esta a nossa grande dificuldade. Possuímos todos, eu inclusive - e provavelmente com um maior expoente que a maioria - uma enorme incapacidade de nos revelarmos "nús". Muitas vezes por termos consciência das nossas lacunas e de possuirmos um tremendo medo de nos apresentarmos fracos e humanos. Ora, este medo é o mesmo medo que impede os outros de nos conhecerem tal como somos ou pior que nos conduz a um ser que toma proporções caóticas. Ser simples não é somente a negação de ser complicado. Ser simples é ser humilde, verdadeiro e sensível. Humilde, para nos aceitarmos como somos, sem pretendermos ter sempre razão e sem erguermos barreiras ao que somos. Verdadeiro na única verdade que interessa: o amor. E sensível, como condição para estarmos atentos ao outro, para ouvirmos, mais do que falamos. Para que assim, estejamos para os outros e pelos outros, sem fugirmos do essencial. Com a idade, vamos perdendo esta capacidade, a capacidade de mostrarmos uma ingenuidade própria de criança. Julgamos que para sermos fortes temos que construir um enorme muro, para nos tornarmos inabaláveis, imperturbáveis e inalcansáveis. Tudo isto torna-se tão perverso e enganador. E não julgamos nunca que este muro nos impede de amar e ser amados. Aparentemente crescidos e fortes, e essencialmente pequenos e fracos. Só se aprende a viver se nos deixarmos entregar, se confiarmos o que somos aos outros. Porque só assim podemos crescer. Sabendo que existe a possibilidade de fazermos mais e melhor. E acima de tudo, de sermos quem somos. Trata-se de aprender a revelarmo-nos. O primeiro passo é não nos sentirmos seguros no nosso estatuto de "inquebrável", e apelarmos à criança que existe dentro de cada um de nós. Não como um retrocesso, mas sim como um estímulo a avançarmos sem complicações exageradas, e em busca do essencial.

Um hino aos que se deixam cair

E eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu próprio turbilhão, anseio por fixá-la
E giro até partir... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro
Volve-se logo falso... ao longe o arremesso...
Eu morro de desdém em frente de um tesouro
Morro à míngua, de excesso

Alteio-me na cor à força de quebranto
Estendo os braços de alma - e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra - em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar
- Vencer, às vezes, é o mesmo que tombar -
E como inda sou luz, num grande retrocesso
Em raivas ideiais, ascendo até ao fim:
Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso

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Tombei...
E fico só esmagado em mim

Mário de Sá-Carneiro, A Queda

Anedotas políticas

A propósito do tema "Relvas":  "Fiquei satisfeito porque agora também vou requerer várias licenciaturas para mim". (JJ dixit)

Alberto João Jardim, o inimputável com "30 e não sei quantos anos de governo, engenheiro honorário declarado pela Ordem dos Engenheiros, doutorado ‘honoris causa' por uma universidade, presidente de várias associações filantrópicas" a demonstrar a sua indignação.

Adormecer numa cama de faquir


Constitucionalidade: qualidade daquele que é constitucional, que nunca é inconstitucional, sempre sim, conforme a constituição de um Estado. 
O órgão responsável pela manutenção da constitucionalidade, o Tribunal Constitucional, tem como missão a definição de limites, principalmente quando a aplicação de leis consegue transcender barreiras políticas, económicas e sociais.
A austeridade ganhou uma dimensão sobre-humana, e os cortes desproporcionais dos subsídios, já há muito que nos apareciam como distantes do princípio da igualdade.
A decisão do Tribunal Constitucional, não tem em si nada de errado, pois é um julgamento segundo os pressupostos da actual constituição. O busílis da questão é que o Tribunal Constitucional surge involuntariamente como um órgão que legitima a ilegalidade, uma vez que, promove uma interpretação conveniente do governo perante a sua decisão: "Não cumpre o príncipio da igualdade, então estendamos os cortes ao privado." Com efeito, permite-se, uma  santa equidade, em que ficamos todos igualmente mais pobres, enquanto o estado ficará igualmente mais gordo. No fundo, abriu-se a porta para se estudar a melhor forma de confiscar o resto dos portugueses. 
No entanto, considero o julgamento do TC importante, na medida em que a lei surge como um justo empecilho ao progresso da austeridade, e que mesmo ela se mantenha à tona este ano, obriga à revisão do que está vigente, e a que não volte a emergir nada que seja inconstitucional.
A promessa da aplicação de impostos extra no sector público e privado, surge como um apelo. Um apelo de um Vítor Gaspar que se vê perante um governo fragilizado,  com dificuldades em cumprir um modelo orçamental e que necessita desesperadamente de mais tempo para diluir o défice. Mas que não o tendo ou não o querendo admitir (retirem as vossas ilações) irá procurar contorná-lo. Afigura-se-nos, portanto, um medonho 2013.  E  escolhas como estas, loucas e sedentas pelo cumprimento da austeridade, permanecem cegas perante factos que demonstram insustentabilidade política, financeira e social. E um governo assim que  põe o seu povo a deitar-se numa cama de faquir, com mais pregos para se distribuir melhor o peso,   irá destruir a economia para pagar a dívida, atacando o consumo interno, e ao fim ao cabo, pondo em causa o pagamento da mesma dívida.  Porque enquanto o governo se auto-admira como Narciso, há um povo inteiro a ser vaticinado.

Em pacificação...

É fulcral que compreendamos que a paz, o caminho para a felicidade, só se consegue com a dinâmica e o equilíbrio entre a razão e a emoção. A emoção, enquanto condição essencial ao despertar do coração, para que possamos amar sem limites. Sim, porque o amor quando é possível, é excessivo e para lá da norma. E a razão, enquanto inteligência para buscar a verdade sem desânimo, edificada sobre fundamentos que nos permitem discernir o que é justo, nobre e digno. Sempre com a consciência que o que buscamos é fruto da fé, e portanto, sustentáculo do amor e da vida. A paz, não é um estado que se vive na ausência de afrontas, angústias, conflitos e erros, é sim, o resultado de uma conciliação harmoniosa entre o desafio e a coragem de o enfrentar. A paz, é um acto de não-aceitação. Não é um estado inerte, nem de repouso. É um estado de movimentação, mobilização de forças e, acima de tudo, tradução da pureza do nosso coração. A paz é algo que nenhum homem pode dar a outro. Um dos fins mais importantes da paz é a de reconciliação connosco mesmos. Logo, a paz supõe uma luta interior, dolorosa e duradoura. Mas a firmeza não se constrói na facilidade. E neste caminho da Vida, onde se corre, sofre, as fragilidades humanas converter-se-ão em forças, com o devido ingrediente: o amor. A paz vence a dúvida, o erro, a fraqueza e o conflito, porque humanamente pacificados, divinamente encorajados. Por sabermos que procuramos a verdade plena.