O povo português é um país que deriva no mar dos seus antepassados, vivendo agarrados a um passado que foi, mas que porém, querem retomar. O problema é que esta intemporalidade e paragem no tempo é imóvel e carece de dinheiro e vontade. A ideia do que fomos assombra-nos o presente, quando, no entanto, deveria vigorar como motor de ascensão a um futuro. António Barreto, numa das suas críticas, referia a insatisfação implícita, mas que insatisfação é esta que não nos impele para a frente, que não nos conduz a fazer coisas? O homem é um ser pensante e um ser fazedor de coisas, e assim o terá que ser também o português.
Esta insatisfação, não passa de falácias, de verbos conjugados negativamente, de um pessimismo que se compadece ao romantismo velho.
Mas que povo português é este? Procuram-se heróis mas encontram-se políticos manipulados, vaidosos, empertigados, que nos seus vivos discursos nos impelem a soltar bravos no ar, como algo monótomo e impulsivo, mas não, e nunca racional.
Como dizia procuram-se heróis, e nós próprios portugueses, gostamos, sabiamente, de retorquir quais meticulosas medidas são necessárias tomar para levantar Portugal. No entanto, quantos, que o pretendiam tornar realidade, não ficaram ofuscados pelo dinheiro, pela corja engaiolada sobre os pilares sombrios do dinheiro!
E que vida, que vida esta? Nada se faz, nada se é, mas tudo se lamuria aos céus, esperando perpétuamente por uma Santa do Rendimento ou pelo Santo António da Boa Ajuda. Com efeito, parece que continuamos num país devoto e tradicional, mas que não confia em si, não luta por si, que padece no tempo e que já não tem príncipio, meio nem fim. 
os cães gerais ladram às luas que lavram pelos desertos fora,
mas a gota de água treme e brilha,
não uses as unhas senão nas linhas mais puras,
e a grande Constelação do Cão galga através da noite do mundo cheia de ar e de areia
e de fogo,
e não interrompe ministério nenhum nem nenhum elemento,
e tu guarda para a escrita a estrita gota de água imarcescível
contra a turva sede da matilha,
com tua linha limpa cruzas cactos, escorpiões, árduos buracos negros:
queres apenas
aquela gota viva entre as unhas,
enquanto em torno sob as luas os cães cheiram os cus uns aos outros
à procura do ouro
Herberto Helder
Nunca vi tantos sonhos juntos. Por ali, ao Deus dará, desprezados e abandonados à sorte dos primeiros anos. Esquecidos e poucas vezes reclamados. Encontrei alguns meus. Uns voltaram comigo outros disseram que já não valia a pena.
faço planos. o outro lado da ponte é sempre melhor, um outro oceano a preencher-me a vista, é sempre preferível do que aquele que conheço há dezassete anos. incerto e apetecível, são duas palavras que encaixam de modo perfeito àquilo que sinto quando desejo partir. tenho este sentimento em dias aleatórios, em deixas imprevisíveis e manhãs nebulosas. quero o outro lado que segura a ponte, uma outra estrada, um fim sem capítulo e um homem apaixonado, à minha espera.
Porquê? Por que razão, quando olhamos para trás, o que era bonito se torna, facilmente, quebradiço, revelando verdades amargas? Por que razão se tornam amargas de fel as recordações de momentos felizes de namoro, quando se descobre que o outro tinha uma amante durante todo aquele tempo? Por que não era possível ter sido feliz numa situação assim? Contudo, fomos felizes! Por vezes, quando o final é doloroso, a recordação trai a felicidade. Por que é que a felicidade só é verdadeira quando o é para sempre? Por que é que só pode ter um final doloroso quando já era doloroso, ainda que não tivéssemos consciência disso, ainda que o ignorássemos? Mas uma dor inconsciente e ignorada é uma dor?
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