"2012 vai marcar um ponto de viragem" Vítor Gaspar
"2013 será o ano da inversão da actividade económica e da recuperação" Passos Coelho

Não sei de facto o que é pior: se a política contraditória que tem vindo a ser exercida internamente; se a cultura de mentir a um país perante o descontentamento do povo a que serve, alargando metas.
No quadro do crescimento da zona euro, Portugal é no segundo trimestre do ano, o país com uma maior aceleração no decréscimo do valor do PIB, isto significa, para quem possa estar distraído, que demasiada austeridade mata o doente, sobretudo, quando é aplicada em períodos de grandes convulsões económicas. Significa estatisticamente que "Somos o segundo país da UE com maior contracção económica, com uma queda de 1.2% face ao trimestre anterior (o que representa uma aceleração brutal no segundo trimestre, que apenas tinha caído 0.1% face ao último de 2011) e uma contracção homóloga do PIB de 3.3%, a pior desde 2009." Significa, sim que tudo corre a contento, que 2012 vai, de facto, marcar um ponto de viragem. Um ponto de viragem que sobre o jugo de contracções económicas tão acentuadas, resultará em falências de milhares de empresas, em despedimentos generalizados, em famílias sem rendimentos e em desespero de quem não sabe o que o futuro trará. Que pior sentimento que este? O nosso país, a nossa pátria, o nosso lar, o berço da nossa segurança e conforto, extrapolado por um Governo constituído por biltres, corruptos e filhos da puta. As famílias, os rostos, as pessoas, transformam-se em dados da dívida pública, em números de recessão, em défice financeiro, em percentagens, que eram esperadas. Então se o eram, também seria previsível a miséria avassaladora e a precariedade dos direitos. Não há maior hipocrisia do que a fingir surpresa face a valores de desemprego tão elevados e considerar a descida do PIB normal, "Tudo dentro do que estava previsto". Uma crise económica como esta é provocada pelas políticas austeras. Não são meros indicadores, são centenas de milhares de portugueses!
Faltam 100 e qualquer coisa dias, para o ano acabar, e o motor de economia está gripado, tudo continua em quebra acentuada, e a nova meta do Passos Coelho: "2013 será o ano da inversão da actividade económica e da recuperação" é quase tão surpreendente como os números do desemprego. Isto é uma pilhéria, uma pilhéria!!! Ou para os mais sisudos: A pobreza liberta, não sabiam?!
"Vê que aqueles que devem à pobreza amor divino e ao povo caridade,
Amam somente mandos e riqueza, simulando justiça e integridade".
Camões e as suas prolepses.


Movimentamos esforços para sermos melhores: tentamos ser mais humildes, tentamos abandonarmo-nos da nossa arrogância, ter mais actos de caridade, e de ter uma maior liberdade interior. E muitas vezes adormecemos sempre com a certeza de que todos os esforços se parecem reduzir ao nada. Nada parece ser eficaz. Tudo parece ser, simplesmente, destruído com o passar da vida: a relação íntima que nos deixa desconcertados, a amiga que precisa de desabafar, uma crítica familiar, uma humilhação, impasses, ânsias, o inseguro, o desconhecido,... E qual a nossa resposta à vida? Não somos nós participantes nela? Não é isto precisamente a resposta de Deus aos nossos esforços? Tudo o que nos acontece, é uma oportunidade de crescimento, maturação e liberdade. Não existem estratégias de automelhoramento. O maior segredo da conversão é o amor. O cairmos do alto das nossas seguranças, do nosso estatuto, da nossa respeitabilidade, da imagem que criamos de nós mesmos, das nossas defesas para amar, e... deixarmo-nos amar! O ser melhor exige um abandono total. E é entregando-nos aos outros, que acabamos por nos mudar a nós próprios. E não basta achar mal as nossas falhas, não basta com a razão reconhecer que está mal e decidir mudar. É preciso revoltarmo-nos contra nós mesmos ao ponto de chorar. Não como quem chora lágrimas de remorso e orgulho ferido. Mas como quem chora lágrimas todas elas de amor, de uma pena enorme de ter cometido determinado erro, de ter perdido algo que era sagrado na sua vida, de não ter conseguido ser bom, nem melhor.

O que somos é resultado não só das perdas e dos ganhos passados, como dos sonhos e expectativas futuras. O presente resulta da tensão imente entre o que foi e o que há-de ser, entre o encontro de memórias de coisas passadas e a esperança na concretização de sonhos futuros.
Um homem não pode mudar o seu passado. Toda a nossa identidade é alicerçada sobre memórias, tal como sobre as possibilidades vindouras. 
É importante, avaliarmos o nosso percurso, não como uma mera constatação de factos, mas sim compreendendo a importância que lhes é atribuída. É necessário compreender até que ponto o nosso percurso até então, corresponde aos nossos desejos, expectativas e sonhos.
Os factos do passado são inalteráveis, mas toda a predisposição interna, todo o equilíbrio e harmonia perante estes pode ser trabalhada. O futuro de cada homem não está estabelecido, é algo que deve ser construído segundo o critério a que todos estamos condenados: a nosso própria liberdade.
As encruzilhadas que a vida nos traz e as tentações, não são um mal nem um bem, são o que são. São circunstâncias que a desordem da vida nos traz, e perante as quais cada um de nós tem de escolher, decidir, tomar uma decisão. Escolhendo o seu futuro perante os infinitos possíveis. E é nesta capacidade de escolha, que reside o grande ímpeto da humanidade. Esta desordem, é a ordem no seu estado de graça. As bifurcações, tornam-nos mais fortes: se nos perdemos, aprendemos, se tomamos o caminho certo, e seguimos realmente o que queremos, tornamo-nos mais fortes e decididos. Sem tentações, a humanidade padeceria de infantilidade, de gente indecisa, que nunca foi obrigada a escolher verdadeiramente e a assumir a responsabilidade das suas acções. Tudo exige uma escolha. E as escolhas sim, podem ser más ou boas. E claro que, há escolhas difíceis, mas nunca, de facto, é tarde demais, não perdemos possibilidades por acumularmos passado, nem por sonhar demais. Na verdade, envelhece quem decide que a vida não dura mais. No final deste texto, eu mesma, tu mesmo/a, já não és o mesmo, outra luz te ilumina. Espero que te ilumine ao ponto de ires concretizar um sonho, algo que queiras efectivar, qualquer coisa, sem temer e sem tremor. Tudo o que for preciso, para o tornar real. Se não der certo, aprendes. Cresces. O sentido da vida, é buscá-la, os sonhos são actos de amor, afirmações existenciais, através da liberdade que Deus nos concedeu. 
"Um dos exemplos do paradoxo actual na política é que os políticos nacionais têm quase todos ideias muito claras sobre o que os políticos europeus deviam fazer, nomeadamente o que deveria fazer a Chanceler alemã! Mas, aparentemente, já não têm tantas ideias sobre o que fazer internamente!"
Ventura Leite, in Solução para a crise, Esfera do Caos, 2012

Bem visto, e com uma resolução simples, assim que a Chanceler alemã proclamar o que se deve fazer internamente em Portugal, os políticos nacionais já passam a saber com clareza o que fazer internamente. E Portugal? E o povo português? Repare-se que o papel do Governo - por eleição - é impedir o saque do País. Um governo que considera justificável o desemprego, os salários miseráveis, a incerteza de um serviço de saúde  diligente e para todos, os cortes no ensino,  a possibilidade da inexistência de uma reforma que garante uma velhice digna, é um governo que considera um retrocesso civilizacional em Portugal.
A ficção: 
Mãe portuguesa desempregada? "É para seu bem." 
Família que vive mal? "É para prestigiar o país no Estrangeiro." 
Pai a trabalhar mais e a ganhar menos? "É para glória presente e posterior de Portugal." 

A realidade: 
Estudantes em situações insustentáveis e com propinas em atraso? É a garantia de que os filhos dos mais pobres estão condenados a prosseguir a condição social dos seus progenitores.
Precariedade e instabilidade social? Impossibilidade de um mínimo planeamento familiar de vida, e por conseguinte, inexistência de uma garantia de reforma que permita viver a velhice com dignidade.
Desigualdade social? Significa, que o país mais do que ter pouco dinheiro, tem-lo mal distribuído.

Sem grandes mordomias, em conclusão o dinheiro está simplesmente a converger para um quadrante, o político, gerador inesgotável de corrupção, que muda a ramagem mas que mantém o cerne imutável para continuar a suprimir apetites pessoais. Há quem fale de défice democrático, e quando o diz, não o diz como uma simples frase. A verdade, é que a crise económica, a degradação política e social iminente, é fruto de um recuo democrático. Após todas as lutas para o nascimento da democracia, deixou-se que os ideais da mesma se diluíssem em fascínio pelo recém-estrangeirado, em ilusão por uma cultura de subjugação de poder e, acima de tudo, conduziu à perda de pragmatismos patrióticos fundamentais.

Esta diluição não é culpa de um partido no governo. A culpa é dos que a criaram, dos que não a travaram e dos que a ignoraram. E posso reescrever a frase usando o presente.

A direita longe de ter o seu papel como partido conservador de preocupações sociais e éticas fundamentalistas.

O PS perdido na definição etimológica de oposição, baseia o seu comportamento numa ética comportamental de responsabilidade sem qualquer conteúdo político útil.

O PCP emergido na memória das suas glórias, não compreende, que a actualidade é actual e, portanto, um tempo absolutamente diferente. As lutas sociais não podem ser somente preservadas, mas sim têm que ser renovadas, segundo a conjuntura laboral patente. A autopreservação rapidamente conduz ao isolamento, e não só não é contagiada, como também não contagia.

O Bloco de Esquerda, apesar da apresentação de alternativas, tem que à mesma velocidade com que a crise anda, compreender que, em tempos dramáticos, o tempo para a aplicação de alternativas é muito curto. E portanto, a maior capacidade de resposta, neste momento, prende-se com o estabelecimento, à esquerda, de pontes. A renúncia ao sectarismo personifica a identidade de esquerda. E um partido que nasce para desbloquear. Não pode tornar-se um factor de bloqueio.

Tudo tem que ser renovado, reaprendido, porém nada se inicia sem um pretérito. Os políticos terão que se adaptar, começando por repensar as suas alianças políticas, que podem ter que ser bem mais amplas. Porque a emergência nacional não se cuida a prestar cuidados a si mesmo. Se o fizerem, estarão condenados à inutilidade.


A arte de amar, por Manoel Bandeira (Recife 1886- Rio de Janeiro 1968)

"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

Januarismo


Soube, pois, que D. Januário Torgal Ferreira sobre o título oficial de Bispo das Forças Armadas, compareceu hoje no 5 para a Meia Noite.  A sua inteligência - rara (por sinal) - e a sua pretensão "popularucha" de manifestar a sua "verdade" tem tomado proporções imensas e ridículas. Não me surpreende que os comentários que D. Januário tem tecido, despontem nele aclamações de conhecimento, serviço e humanidade. Visto que, como habitualmente, qualquer comentário que critique o actual governo é digno de aplausos. É fácil... A nação de agora, como a de todos os outros tempos e de todos os outros homens, rege-se pela inércia e pela acrítica. E estranhamente nós até sabemos disso, tal como sabemos que tudo continua como antes. No entanto, este cenário é-nos convenientemente camuflado por um sentimento de pseudo-movimento veiculado pelos tais "comentadores políticos". E nós adoramos isso! Trata-se de um grito interior (tomado como próprio) tão orgásmico que ficamos com o discernimento completamente tolhado. Enquanto cristã, acho inadmissível um Bispo, julgar-se possuidor da verdade, e mais, numa versão maliciosa de subjugação de poder, publicitá-la. Isto não só cria intrigas políticas, como acima de tudo, permite a manipulação de consciências. Repare-se que um bispo tem a missão de servir os outros, e esta premissa tem um único fim, o de movimento de todos os seus esforços para um bem comum. A posição de um Bispo e de qualquer outro sacerdote, não pode nunca ser usada como instrumento para exibições individuais e tentativas desesperadas - mas com elegância e originalidade - de defender as suas ideologias políticas. D. Januário tem sim a obrigação de interceder pelo povo. E a Igreja tem sim uma palavra a dizer no campo da política como "corpo" com a missão de adverter para a necessidade da defesa da Verdade, da Justiça e da Vida. Mas essa intercessão não é ajustável, não está abaixo de posições partidárias, e muito menos pode ser um móbil para intervenções tontas sem qualquer consciência das consequências que representa. O que temos é um Januário homem que não ousa defender o país dos seus males, defeitos e vícios, quer políticos quer humanos, independentemente da sua origem e contexto. Um Januário homem que não compreende a responsabilidade pública dupla (homem e homem de Deus). O que temos é um Januário homem que fala muito com a boca e que fala pouco com as mãos.