Eternidade

Passamos demasiado tempo a desejar mais tempo. Desejamo-lo, e é de todas as coisas, aquilo que mais desperdiçamos. Talvez porque nos segundos, nos dias, encerramos demasiadas memórias, caras e lugares, palavras, cansaços e ânsias... E nunca nada nos parece ficar completo. Nunca nada nos parece realmente construído, ao ponto de nos fazer sentir satisfeitos.  Nunca nada nos parece totalmente vivido e aproveitado. E tudo devido à irritante capacidade que temos de nos preocuparmos demais, de racionalizarmos tudo ao ponto, de lhe retirar o mistério. Na vida nada está decidido, nada nem ninguém está terminado. A perfeição inerente à nossa existência é esta! A possibilidade de nos (re)criarmos, de contemplarmos o passado e de sabermos que há sempre algo melhor que podemos fazer, e de saber que cada um de nós se pode sempre tornar melhor. Portanto, o cérebro que possuímos armazena milhares de memórias, que consistem em fracções de tempo indispensáveis à nossa própria felicidade. De pouco serve preocuparmo-nos com o que ainda não fizemos. O único futuro que importa é o que temos no limiar dos nossos dedos... o hoje!

E no hoje, devemos não nos esquecer que todo o efémero tempo passado, já encerra em si uma eternidade.

“Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade, talvez não mereçamos existir” José Saramago

Fénix

Não sei se por toda a gente perpassa esta sensação. A sensação de estar farta desta menoridade humana. Da mesquinhez e pequenez que tão rapidamente subjuga grandes sonhos guiados por grandes princípios.  No início, a ingenuidade de quem se sente um feto, o amor genuíno pelos sonhos, a alegria de nos dedicarmos ao que amamos e no qual, por dom ou trabalho, somos bons. Verdadeiramente bons. O que é a vida? Senão a arte de fazermos coisas. Coisas que amamos. O problema reside no momento ténue que existe entre o amar o que fazemos, e o outro domínio, completamente oposto, o amar o sentimento de poder. O amar o ego. O ego, no surgimento de falhas, não se alimenta da vontade inicial sonhadora para colmatar as falhas e aperfeiçoar-se, pelo contrário, não as aceita, e para isso corrompe-se, contorce-se, liberta-se de todos e quaisquer princípios,  para se manter na segurança daquilo que já obteve até então.
É o que acontece com muitos políticos, e com muitas daquelas pessoas que designamos más, mas é o que acontece, também, com cada um de nós, diariamente. É tão perigoso, quando nos tomamos a nós mesmos por humildes, bons, cheios de grandes ideais, é tão perigoso, porque nos estagna, turva-nos a visão, não nos permite ver, quando falhamos, quando vamos contra tudo aquilo que defendemos.
E é tão bonito, quando falhamos, e nos renovamos, quando somos verdadeiramente irradiados pelo amor de concretizar sonhos, de viver com alma, de fazer coisas, de alegrarmo-nos com o que fazemos, o sentimento de pertença, de utilidade, de crescer, de aprender... quando nos aperfeiçoamos! 

Talvez, Salvação Nacional

Só espero que agora não ajam como crianças em busca do poder, como pequenos déspotas de infinita ignorância e de desmesurada vaidade, que por acaso, têm entre mãos o governo de um país. O país trabalha, comete sacrifícios, vê-se perante um estado caótico e de sofrimento atroz, e só deseja, sinceramente, que as coisas se resolvam. Só deseja recuperar a sua vida condigna, trabalhar, ser capaz de alimentar a casa, pagar menos impostos, poupar para umas férias que até podem não ser no Algarve, mas que existam, e suar para uma reforma na decrepitude da vida. Não podemos ser estatísticas em jogos políticos, não podemos continuar a ser alvos de birras políticas, não somos pinocos de estratégia e de tácticas partidárias de mera oposição contrária. Ao fim ao cabo, foi este o manifesto que o Presidente da República fez. Com lacunas ou não, com falhas ou não de discurso, com pouca ou muita cautela, podendo dar um bom ou um mau resultado, enfim... o que queiram. Mas pediu, e pediu um silêncio que todos nós já desejámos e desejamos. Pediu o silêncio - ou melhor definindo - o fim do ruído das agressões diplomatas sucessivas, que não resolvem nada, e que apenas inflamam instabilidade. A matriz política desta democracia parece ser por definição um constante dizer mal dos outros, e um subsequente, elevar-se a si mesmo. E não digo, que as oposições não são necessárias, porque são! Mas não no vazio, não para agradar plateias partidárias, mas sim, para sendo colocadas, de forma reflectida e estruturada, responderem em função das necessidades de um povo. Porque sim, a competência dos políticos e dos partidos é servir o país! E não a sua própria corja! E neste momento já não há boas soluções, há - e suspiramos, aqui - males menores!

O relógio está a contar...

Arranja tempo, porque se há algo que algum dia pedirás será isso. Arranja-o, e encara-o com desejos despidos de hesitações e disfarces. Coloca-os nús e desprovidos de medo na tua vida. Não penses somente, escreve-los, grita-os, edifica-os... faz das tuas mãos a obra, o desejo, e corre, atrás daquilo que mais ambicionas na vida, aquilo que anseias, desde que te lembras, desde que te lembras de sonhar e de tornares num ser singular. E se fizeres muita questão que tal aconteça, acredita, isso acontece. As tuas mãos irão assimilá-lo e não tratarão dessas tuas ideias como algo supérfluo, como um capricho, mas sim como uma real necessidade do teu ser, que respira nas entranhas, que pulsa na pele. Trata a vida por tu e ela retribuir-te-á o mesmo amor.



Sugestão

A humildade de assumir que não temos uma conjectura que nos valha, mas que também não há vacas sagradas.

Questões relativas ao tempo

Existe uma espécie de sentença na vida, algo inevitável, e que não deixa margens para dúvidas: a vida resume-se a sucessivas despedidas, sem o consentimento do adeus. Quando se experimenta viver, experimenta-se uma encadeamento não premonitório de abandonos. Abandonamos a nossa infância, os nossos pais, a nossa segurança e conforto, e somos incapazes de delimitar o momento em que isso ocorre. Talvez, tenha sido no dia, em que entrei para a Universidade, ou no dia em que ganhei o meu ordenado, talvez tenha sido. Mas parece-me que não, acredito que tudo tem um historial que se arrasta no tempo. Nada é imóvel! Tudo é dinâmico! Nada pára para te conceder despedidas, nada pára ao ponto de perceberes que algo já "acabou" e que um novo ciclo "começou"! A ida para a universidade, o primeiro salário, são meras referências, não são a consumação de nada, aliás, os dias, as horas, são pequenos nadas. Tudo se afigura como algo extensivo e contínuo, mas que se precipita ao longo da vida em pequenos acontecimentos, que dado o seu espectáculo, sublinham e revelam com maior evidência as "coisas da vida".
Isto, para vos dizer, que de facto, tudo se dá em  pequenos saltos, numa espécie de fragmentos de vida, que não se esperam, que simplesmente, acontecem, segundo o que fazemos dia-a-dia. O grande remédio universal para tudo, é o trabalho, é a realização. E devemos sempre trabalhar em ordem a sabermos que fomos fiel ao que queríamos. Em ordem a não nos arrependermos de ter deixado algo por dizer ou algo por fazer. Acima de tudo, devemos saber que somos dotados de espírito, de energia, de agilidade de pensamento, para trabalhar... não em direcção à morte, mas à vida!