'Maria Helena falava pouco. Olhava, sobretudo. Olhava com uma intensidade fria, como se estivesse a atravessar um rio e se dividisse entre o perigo e o prazer. O fundo arenoso onde se recortavam peixes prateados dava-lhe aquela expressão suspensa e maravilhada; mas, de repente, o remoinho da água trazia a noção da forte corrente, e, um pouco mais, era a dúvida, um temor concentrado, a razão alertada. O rosto exprimia angústia, os olhos abriam-se mais e ganhavam uma cor cristalina.'
Augustina Bessa Luís

Se o silêncio falasse, o que diriam todas essas almas que se apregoam ao chão? que morrem de uma mudez doentia?
foram dias e dias sem saber como fazer - e ainda não o sei. É louvável poder conhecer alguém muito bem, sobretudo porque requer muito empenho, muita dedicação, muito carinho, muitas horas, muitas lágrimas, muitas ilusões e o dobro das desilusões.
achei que seria mais fácil despegar-me de uma pessoa. mas, realmente, a partir do momento em que se cativa alguém, esse alguém fará parte, para sempre, de nós, como diz a sábia raposa. basta um olhar e muda tudo. basta uma voz mais firme. um passo em falso. uma escolha mais hesitante. basta um desencontro. um erro. um risco. um arriscar.

Um dia acordamos submersos numa batalha sem fim, onde há sangue, gritos de guerra, rostos unidos por uma vitória longínqua e desconhecida. Enfrentamos todos os adventos, terminamos todas as acções com um sorriso de glória e com a alma cheia por termos conseguido!
Depois sentamo-nos no chão, as mãos feridas, sem fôlego e observamos o sol, que se esconde de uma maneira tão melancólica que quase nos faz chorar. A seguir seguimos o nosso caminho, o coração receia outras mais batalhas, mas sabe perfeitamente ser essa a sua razão de viver.