Como diria o nosso cómico amigo:



A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, canta, chora, dança, ri e vive (curte)intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.
Lá fora nos jardins onde se plantam as sementes, há uma árvore tão velha quanto eu. Os galhos foram invadidos pela cor (verde). A grama cresceu e já passa para lá dos joelhos. Pelas rachaduras do tronco, eu subo ao topo. Aii, quantas vezes já escalei a árvore pra ver o mundo e quando os ventos vinham para me derrubar eu segurava-me firme, tão firme como quando tu seguravas em mim! I held on as tightly as you held onto me... Porque eu construí uma casa para ti e para mim, até ela desaparecer de mim e de ti...

And now, it's time to leave and turn to dust...

Na minha família não se fala de mariquices mas, de vez em quando, há gestos destes, de ternura escondida, como quem não quer a coisa. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar. Deve-se gostar das pessoas sem lhes mostrar? Pelo menos entre nós é assim: não há elogios, não há censuras, raramente há perguntas. Para quê? Há um estar ali que é já tanto. Diz-se sem as palavras e percebe-se que se diz e o que se diz porque o clima, não sei explicar de outra maneira, se torna diferente. Não falamos do que cada um faz: a gente sabe. Do que cada um sente: a gente sabe. Não se fala do sofrimento, não se fala da alegria: a gente conhece.
Estou a deliciar-me com o António Lobo Antunes e com o Stevie Dance:

A violência da vida bate-nos em cheio na cara. Procuramos abrigos, e todos cedem, e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso... ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para ela nem encontramos motivo. O Mundo está todo num mal-entendido que aguardamos que se resolva ou estoire e enquanto nada acontece, sofremos. Agarramo-nos a coisas que se nos escapam por entre os dedos. Mas de que nos vale viver na iminência que nem "cadáveres adiados"? A vida é demasiado efémera para se perder em constantes tentativas de provações daquilo que nem sequer somos, aos outros. Não atraiçoem os vossos sentidos, provem a voçês próprios o que ainda podem ser!


Espero que sintam a melodia, bem como a sua letra, tal como eu sinto.

O que se passa comigo? Às vezes sinto vontade de gritar, abanar-me freneticamente como quem abana um produto, um objecto...
O reflexo do espelho onde me vislumbro embacia-se, numa névoa carregada esconde a pessoa louca, sim aquela que é louca por viver, louca por falar, louca para ser salva, desejosa de tudo, mas tudo não é mesmo que "o que toda gente quer". Agora já não estou louca, estou apenas na moda, no mundo de aparências impingidas e camufladas, e o pensamento sobre tudo o fomos e o que somos resume-se isto, a uma compulsiva onda de inveja, histerismo e consumismo.
Eu canso-me facilmente das coisas que me rodeiam, mantenho o pragmatismo e sou desprendida, e não para estar constantemente a seguir anúncios itinerantes, liberto-me porque me canso da monotomia, dos dias e das pessoas tão iguais a tantos e tantas outras.
Torna-te num quadrado por entre milhares de pontos iguais, age com dignidade, porque não somos coisas, não temos preço, somos pessoas na qual reside um problema: somos comuns, vulgares com um medo infindável de transparecer a essência da qual somos dotados.

Há algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se tu soubesses como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como o gelo. É como se tivesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.
Frida Kahlo

L. és açúcar, clareza e orvalho. Meu amigo lembra-te sempre destas palavras, que é a mais pura das verdades:
E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre.
Miguel Sousa Tavares
e permaneci assim, imóvel, ao longo de toda a manhã


Acordei numa manhã diferente a todas as outras, já se via o sorrateiro orvalho, cheirava a terra molhada e o sol piscava os olhos como se lhe custasse ver a noite. Não ousei mexer-me, com receio de que aquilo tudo fosse um sonho, mas sei bem que não, era Setembro, e deliciei-me. Senti tanto medo que continuei imóvel. Nesta manhã igual a todas outras em que descubro que o que já sabia e maldisse a vida que por instantes me uniu a pensamentos. Porque é que um momento tão perfeito me espeta uma faca lentamente e com maldade? Era eu que estava ali parada e ferida sem me poder levantar, sem poder acabar o que quer que seja ou recomeçar. Imóvel... com este tempo melacólico-açucarado.