Eros vs Agape

Acredito, sinceramente, que cada um de nós tem a oportunidade de um amor eterno. O problema reside na confusão evidente do eros com o agape. O eros impõe-se como o desejo, isto é, a atração natural do homem ao outro, visto que nada nos torna mais felizes do que sermos algo para o outro. Necessidade esta, que demonstra o quanto temos medo de ser rejeitados, o que por conseguinte, conduz ao grande défice de compreensão de sentimentos em que vivemos. Vivemos na ânsia absurda do reconhecimento e do significar tudo para alguém, que nos tornamos incapazes de vínculos puros e autênticos. O ânimo humano já não busca amar o outro, mas sim, amar-se a si mesmo por intermédio do outro. O eros é a parábola humana mais original do homem, que nos impele para o desejo do amor, no entanto, infelizmente, reduzimos as relações ao prazer, à aparência e ao superficial. E reparemos que não é uma questão de negar o eros, mas sim, de compreender que as relações não se reduzem a instrumentos de prazer, de exibicionismos e de hipocrisias. Não há amor sem o eros inicial. E o grande trabalho humano diz respeito à conversão da paixão em amor (do eros em agape). Porque todas as paixões no fascinam, cansam-nos e iludem-nos, com este mesmo encadeamento, se não forem configuradas em amor. O amor de entrega, despido de mecanismos. Eis o milagre pelo qual devemos suar: doarmo-nos ao outro. Porque é o amor que confere à existência sentido,   numa tentativa constante de nos aperfeiçoarmos enquanto individualidades, e consequentemente, enquanto colectividade capaz de êxtase e comunhão - a possibilidade do prazer de viver, sem medo de amar.

O homem, demasiado homem

A vida constitui-se como uma totalidade onde coexistem paradoxos imensos que impelem o homem para um sofrimento atroz. Até a maior lucidez é apagada. Conhecermo-nos enquanto entidade humana é um espectáculo, onde nós somos o palco dos nossos pensamentos e emoções, que pretendem causar a impressão pretendida no espectador. Não é, portanto, uma questão de ser, mas de transmitir uma imagem. Imagem esta, que é mecanizada por uma necessidade inevitável de todos nós - a de sermos aceites, a de estarmos integrados, adaptados, e por conseguinte, a possibilidade de sermos amados. No entanto, desconheço necessidade que nos reduza tantas vezes à normalidade, à estandardização do que esta carência que nos distancia de nós mesmos, e que nos aproxima de todos os outros, também já distanciados de si. A expectativa de sermos aceites, tornou-nos comuns, limitou a nossa ascensão enquanto individualidades únicas e padronizou-nos. Trata-se de vivermos num mundo cada vez mais escuro, perante o qual a nossa visão vai involuntariamente ficando mais limitada. No entanto esta é uma limitação adaptativa. Esta duplicidade deve ser consciente, e não conheço nada que seja mais encorajador do que a irrevogável capacidade do homem para elevar a vida através do esforço para demonstrar a sua essência natural e pensada e não a incutida e artificializada.