"Um dos exemplos do paradoxo actual na política é que os políticos nacionais têm quase todos ideias muito claras sobre o que os políticos europeus deviam fazer, nomeadamente o que deveria fazer a Chanceler alemã! Mas, aparentemente, já não têm tantas ideias sobre o que fazer internamente!"
Ventura Leite, in Solução para a crise, Esfera do Caos, 2012

Bem visto, e com uma resolução simples, assim que a Chanceler alemã proclamar o que se deve fazer internamente em Portugal, os políticos nacionais já passam a saber com clareza o que fazer internamente. E Portugal? E o povo português? Repare-se que o papel do Governo - por eleição - é impedir o saque do País. Um governo que considera justificável o desemprego, os salários miseráveis, a incerteza de um serviço de saúde  diligente e para todos, os cortes no ensino,  a possibilidade da inexistência de uma reforma que garante uma velhice digna, é um governo que considera um retrocesso civilizacional em Portugal.
A ficção: 
Mãe portuguesa desempregada? "É para seu bem." 
Família que vive mal? "É para prestigiar o país no Estrangeiro." 
Pai a trabalhar mais e a ganhar menos? "É para glória presente e posterior de Portugal." 

A realidade: 
Estudantes em situações insustentáveis e com propinas em atraso? É a garantia de que os filhos dos mais pobres estão condenados a prosseguir a condição social dos seus progenitores.
Precariedade e instabilidade social? Impossibilidade de um mínimo planeamento familiar de vida, e por conseguinte, inexistência de uma garantia de reforma que permita viver a velhice com dignidade.
Desigualdade social? Significa, que o país mais do que ter pouco dinheiro, tem-lo mal distribuído.

Sem grandes mordomias, em conclusão o dinheiro está simplesmente a converger para um quadrante, o político, gerador inesgotável de corrupção, que muda a ramagem mas que mantém o cerne imutável para continuar a suprimir apetites pessoais. Há quem fale de défice democrático, e quando o diz, não o diz como uma simples frase. A verdade, é que a crise económica, a degradação política e social iminente, é fruto de um recuo democrático. Após todas as lutas para o nascimento da democracia, deixou-se que os ideais da mesma se diluíssem em fascínio pelo recém-estrangeirado, em ilusão por uma cultura de subjugação de poder e, acima de tudo, conduziu à perda de pragmatismos patrióticos fundamentais.

Esta diluição não é culpa de um partido no governo. A culpa é dos que a criaram, dos que não a travaram e dos que a ignoraram. E posso reescrever a frase usando o presente.

A direita longe de ter o seu papel como partido conservador de preocupações sociais e éticas fundamentalistas.

O PS perdido na definição etimológica de oposição, baseia o seu comportamento numa ética comportamental de responsabilidade sem qualquer conteúdo político útil.

O PCP emergido na memória das suas glórias, não compreende, que a actualidade é actual e, portanto, um tempo absolutamente diferente. As lutas sociais não podem ser somente preservadas, mas sim têm que ser renovadas, segundo a conjuntura laboral patente. A autopreservação rapidamente conduz ao isolamento, e não só não é contagiada, como também não contagia.

O Bloco de Esquerda, apesar da apresentação de alternativas, tem que à mesma velocidade com que a crise anda, compreender que, em tempos dramáticos, o tempo para a aplicação de alternativas é muito curto. E portanto, a maior capacidade de resposta, neste momento, prende-se com o estabelecimento, à esquerda, de pontes. A renúncia ao sectarismo personifica a identidade de esquerda. E um partido que nasce para desbloquear. Não pode tornar-se um factor de bloqueio.

Tudo tem que ser renovado, reaprendido, porém nada se inicia sem um pretérito. Os políticos terão que se adaptar, começando por repensar as suas alianças políticas, que podem ter que ser bem mais amplas. Porque a emergência nacional não se cuida a prestar cuidados a si mesmo. Se o fizerem, estarão condenados à inutilidade.


Sem comentários:

Enviar um comentário