Que interessa o lugar onde repousarão as nossas cinzas? Quando morrermos serão as palavras, os actos que falarão aos vivos amados por aquele que morre. Demitimo-nos muito deste sentimento presente de cumprir o nosso dever de viver - viver, não é somente uma declaração de presença. Estou farta desta espécie de amor de segunda (e peço desculpas, por hoje em dia, não ser mais do que isto). Exageramos nos sentimentos fracos e nos pedidos de desculpas. E esquecemo-nos que é o amor que conduz ao conhecer. O amor começa sempre antes. Dizem, ainda, alguns insípidos alguéns, coisas belas e verdadeiras, em alegorias transbordantes de imaginação, instigando o desassossego do pensamento. Porém, não os compreendemos! Estas coisas belas são sempre interrompidas pela beatice e pela pequena história da politiquice, e hoje, como já ouvi dizer, pela malabarice. Há a aflição das hierarquias do poder terreno! Que vergonha, não aceitarmos a nossa própria humanidade, buscadora incansável da justiça e da alegria. Que interessa esta mesquinhice humana? Os grandes não se desfazem em cinzas, e é isso que os pequenos poderes não perdoam, por serem e se saberem mortais, e que haverá quem lhes aponte o dedo e lhes desmascare as farsas. Mais do que isto, em tempo de pressas sôfregas, são as palavras, os actos. É através destes que seremos homens. E como homens nos faremos livres. E o amor que vive connosco, em nós, por nós, nos tornará ainda mais livres.Vê-se nos nossos olhos. Nós continuaremos a existir, porque o amor tem o dom de permanecer debaixo da pele e no brilho dos olhos de quem o guarda. Só isso se guarda: o amor e as palavras. A coragem de os viver por inteiro. O amor e as palavras exigem coragem. E nós sempre o soubemos.

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