não faz sentido manter toda esta emoção, este sentimentalismo barato, este monte de advérbios graciosos em prol do que sempre se dispersa, se esvai. não sou romancista, não sou dramaturga, muito menos escritora. não sou. estou longe desse universo. amar em vão, isso jamais. somente na ruína, no fim, no término amargo do sim. aquele não, que invade o corpo e que toca febrilmente o coração, estirpando-o, sufucando-o, degerando-o, até se rasgarem lágrimas nos olhos. uma falta de ar, uma perda de tacto e de consciência de tempo. imóvel e petrificada. estou dissecada, gélida, árida, sem textura. cansei-me desta ilusão.estou farta, exausta, confinada a um espaço sufocante. quero a falta de ar de quem corre e não a de quem ama. aquelas palavrinhas bonitinhas de outrora podem se resumir à insignificância do que traduzem, agora, eu quero palavrões. grandes palavras, cheias de raiva, furiosas por si, que não carecem de complemento, que ecoam sem esforço. vou encher-me de suor, na testa, nas costas, no peito... e todo o resto que sue! vou transpirar realidade, no esquecimento vulgar dos nomes e dos números, na convenção do arcaico modo burguês de ser e vou embriagar-me não por causas e reconhecimentos, mas por sede e sedentos. terei ideias. não me satisfarei com o pouco. não farei parte desta banalidade, desta vulgata, isso, que acontece diariamente nos quatro cantos do mundo, sobretudo aqui. aqui neste universo de gente hipócrita e mariquinhas (talvez, como eu). na sujidade, nesta imundice toda, que causa preguiça e falta de coragem. personificamos a vaidade, a luxúria rica de tão pobre. somos egoísmo e individualismo de uma só vez. é mais fácil ser assim, mais viável, esta postura única, unilateral, rasa, superficial. sem inteligência, sem arrebate, sem o som de tudo... o que vai além dos ouvidos. deixamos que a mediocridade substitua o carácter dos honestos, esses parciais sujeitos coadjuvantes. e faz com que tudo em volta seja exacto, desumano. anota em letras grandes o meu pedido, o de querer ser normal. e lê pra mim, em voz alta, o diagnóstico psiquiátrico de que: adoeci!

Sem comentários:

Enviar um comentário