Um e outro bêbado regressavam a casa, errando pelas ruas desertas, inadaptados ao espaço. Pus-me a observá-los na dissipação do meu olhar. Um vinha da missa e da tasca, outro do campo e da sua colheita. Caminhavam ambos num mesmo ritmo, num corpo descambado pelos trabalhos injustos, pesados. E eu pus-me a imaginá-los na sua nudez de uma praia, sem tortuosidades da vida, desconjuntamentos e rudimentos. Segui-os pela entre abertura da porta. Cambaleiam hesitantes, bolinando à direita e à esquerda, parando, às vezes, equilibrando-se no apoio fraco um do outro. Reflectindo... avançando, recuando à procura do caminho certo que se apresenta a dobrar. Agora mais perto, ouço-os a trautear sozinhos. Ou mal dizem a vida ou cantam, avançando às guinadas. Desaparecem-me da vista, a certa distância. O resto dorme ou se refugia na sombra, nas tabernas do lazer, no fundo das casas.

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