Anti-liberdade

Dificilmente compreenderão a dor que tenho ao ler comentários predominantemente anti-liberdade, mesmo que os criadores destes não tenho a absoluta ideia desta convenção. Refiro-me a vitupérios como: "De que serve a liberdade a um desempregado?" Visto à distância parece uma pergunta que revela preocupação, interesse pelas necessidades do outro e sugere uma certa vontade de as satisfazer. Até aqui tudo é admissível. Agora, visto meticulosamente, impõe-se como uma pergunta que não serve de mais nada, senão de prefácio a um compadecimento a esta menoridade política que não vale os proeminentes princípios. O que evidentemente, demonstra uma ridícula ignorância, ou numa perspectiva muito positivista, uma má-fé imensa. O povo esqueceu-se da versão portuguesa censurada, esqueceu-se de como foi viver desempregado e sem liberdade, esqueceu-se de como foi ver famílias a serem despejadas por fazerem uso do seu entendimento, esqueceu-se de como foi viver na mais pura miséria de se ser humano, não o sendo. Isto é, mortos pela censura. Repare-se que nada nos diminui tanto como a impossibilidade de expressarmos o nosso discernimento, e portanto, de  nos mutilarem a  faculdade que nos permite relacionarmo-nos com o mundo. Não se trata somente, de um processo mecânico e abstracto, mas também, e acima de tudo, um mecanismo de expressão pessoal e construtor de uma identidade.  Lembrem-se dos fuzilados, dos degolados, dos estraçalhados, dos mortos, mortos e mortos sem liberdade. Privados do uso da nossa inteligência vivemos tão mortos quanto estas vitímas. Manifestamente quem compara a situação actual à época do salazarismo sofre de dois grandes problemas facilmente diagnosticados por alguém que pense: ignorância e estupidez. Saibam, que provavelmente vivemos na mesma merda, mas saibam também que agora, temos paz, e a possibilidade de gritar que este governo é efectivamente, uma merda.

(Para que conste: inspirei-me num comentário do Henrique Monteiro que constou.)

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