Triste e fatal

Oscilamos entre o tudo e o nada. Confundimos mecanismos com causas, descrições com fenómenos, linguagem com pensamento, enfim somos peritos na aparência e incapazes de transparência. Entenda-se que incubámos uma espécie de manual de sobrevivência, nascemos, criamos uma biografia própria, com determinados factos distintos, algumas anedotas para demarcar uma personalidade bem-humorada, alguns rancores para não parecermos demasiados santinhos, algum despeito por aquilo que somos para manifestar a nossa faculdade prima da modéstia, pronto, que seja, algumas historinhas para alcançar a consumação plena, e morremos. Tudo acaba. Afinal depois de tantas tentativas para que os outros construam as impressões que pretendemos que concluam. Morremos. Ó que triste e fatal destino, inevitável, ilógico, estúpido, injusto. Afinal a maior conclusão é morrer. Não porque é um fim, pressuponho. Mas porque é o início da percepção de tudo o que dá sentido às nossas vidas. Com o seu quê de perversidade, mas perfeita na sua amálgama. Eis a questão: como seria se estivéssemos na iminência de morrer? Eu, sinceramente só queria garantir que a minha morte determinaria que tinha vivido segundo as minhas expectativas, os meus sonhos e a minha loucura. Que a minha mortalidade proclame as minhas obras. Porque o homem é pequeno, fraco e cambaleia rapidamente entre o certo e o errado. E deixemo-nos de tretas, a nossa vida é minúscula. Não há grandes homens, há actos que, às vezes, são grandes, como surtos de grandeza existencial, mas mal acabados os actos, voltamos à nossa dimensão. O propósito não é estagnarmos, é aperfeiçoarmo-nos, tornarmo-nos melhores e sermos mais felizes. Sem artifícios e aparências, sê um "eu melhorado", não um "eu postiço".

Sem comentários:

Enviar um comentário