Hoje não consegui deixar de pensar no meu Avô. Curioso. O tempo em que para mim ele partiu foi longínquo, mas não tão longínquo assim para me poder esqueçer do seu rosto, do seu toque exausto na minha face de menina de sonhos. Chamava-se João, um nome tão puro e belo como o seu ser que transbordava de afectos e ternura para o futuro. Seu olhar grandioso, sobre os que passavam perante aquelas grandes pérolas de um mar de África, cobria com saudade as promessas que a vida lhe trazia e, por vezes, viajando sem dizer nada a ninguém seguia para um viver que ficou para trás, para uma terra em que foi feliz.
Havia tardes, senão a maioria delas, em que me sentava aninhada no seu colo esperando sempre ouvir uma das muitas histórias que me tinha para contar, antes de partir para casa. Uma fábula ou realidade que me fizesse voar para bem longe, apenas com aquela figura marcada que me fazia de aconchego, com aquela mão calejada de vivências, de contos cintilantes, de paz existencial. Somente os dois, flutuando entre as nuvens, tocando o céu e sorrindo com paixão. Sua tez morena em contraste com o cinza dos seus poucos cabelos que herdei, estão presentes na minha memória e eu sei que para sempre. Tenho saudades dele confesso, por muito pouco tempo que o tivesse tido, sinto falta do seu abafo no meu cabelo, das mãos dadas, dos lanches tardios, da partilha que desejei ter em jovem. Sei que não podes voltar para me veres, mas eu não me importo, compreendo até. Tu não podes mesmo que queiras. Por isso esperarei por ti,quando fôr possível, num devaneio de madrugada, numa lua cheia de Verão ou numa esquina do passado. Não faz mal porque eu sei que olhas para mim de uma maneira ou de outra, aí em cima, no caminho das estrelas.

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