O todo como um só

Acontece que se instalou na nossa sociedade uma cultura de desresponsabilização, em que a figura de um homem íntegro, justo, leal e bondoso deixa de ser ambicionada pelos homens. Tudo, porque consideramos que num mundo em que a maioria é mobilizada pelo mal, pela incompetência e pela inconsciência não vale a pena a minoria, desgastar-se com actos que demonstrem uma versão melhorada de si. Resultado disto: a precariedade existente, e não falo, somente, dos políticos ou de jornalistas, falo de cada um de nós, e dos laços que estabelecemos. O que se vive, é uma terrível precariedade relacional. E parece que é assim que esperamos que o mundo bata no fundo, entre o júbilo de magnatas prepotentes e o alerta de uma ou outra figura solitária e isolada. Incrivelmente, quase todos concordamos que a solução reside no facto de esta figura solitária se transformar no mundo inteiro. No entanto, tememos que enquanto não houver uma comunhão, uma capacidade de relacionamento e de estabelecimento de laços, a minoria seja somente um motivo de risada, após tantos sacrifícios. Tememo-lo, e não compreendemos que a possibilidade de extinguir esse medo, é nossa.  E é evidente a facilidade com que nos consumimos pelo egocentrismo e por esta política de desresponsabilização pelos nossos actos e pelos outros.  Mas acredito piamente, que uma pessoa com actos nobres pode em seu redor despertar uma explosão de nobreza que conduzam outros a fazer o mesmo. Acredito, que uma pessoa alegre e que faz por contribuir para a felicidade dos outros, mobiliza uma explosão de amor em todos com quem contacta, dando coragem e motivação a quem não a tem. Acredito, que cada um de nós, pessoas vulgares, podemos dentro das nossas parcas possibilidades acender uma pequena luz na escuridão. Acredito, que é assim que uma pessoa só, se torna de todos. E que o todo, se torna uma pessoa só.  Sem medos, sem hesitações, porque nos apoiamos uns nos outros. A realidade em que vivemos não é apaziguadora. Não é fácil. Mas não é fugindo dela que somos mais felizes. Aliás, ignorá-la é condenarmo-nos a um mundo injusto, porque não fizemos justiça à nossa condição humana; é tornarmos a merda actual inevitável, e é, acima de tudo, sentenciarmos a existência de cada um de nós a uma mera sobrevivência triste e insignificante, porque nos esquecemos que o essencial da vida é o amor. São as vidas. E não as coisas.

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