Infra-homens

Os nossos vícios e defeitos tornam-nos, per si,  humanos ou  sub-humanos? A verdade é que não há humanos sem vícios e sem todas aquelas imperfeições que tanto, aparentemente, fingimos não ter. Portanto, creio eu,  que o motivo de disparidade entre o conceito de humanidade e de infra-humanidade se prende com a maior ou menor consciência dos nossos defeitos, e não na negação da existência dos mesmos. E quando uso o termo consciência, pressuponho um estado ciente interno, mas que, se manifesta, factualmente, no domínio do concreto. E é de facto, oportuno, esclarecer esta falsa e típica crença, de que o pensar agir equivale por si mesmo, à concretização da acção. Desta forma, os vícios estão inscritos no ser humano, mais no inconsciente do que no consciente, o que constitui uma barreira à expressão das capacidades e das forças humanas, reduzindo-nos muitas vezes, somente, à manifestação do "pior". No entanto, a não-expressão, não supõe uma não-existência, ou um peso menos relevante e capacitado do "melhor". Contrariamente ao que veemente defendemos, a dificuldade é fazer um exercício governado e lógico da nossa liberdade e racionalidade, tendo em conta todas as propriedades que constituem o ser humano. É o uso irracional da nossa inteligência que nos torna sub-humanos, e como tal animais. Com efeito, qual a origem que determina este comportamento cada vez mais vigente na nossa sociedade? Acredito, que o locus da questão é o medo, e a sua fácil posterior emancipação: o medo é medo do poder, mas também da impotência natural perante o poder. Medo de não saber e de ser desmascarado. Medo de ter medo. Medo de parecer ter medo. Medo de parecer vulnerável, ignorante, incapaz, medíocre, fraco. Medo de agir, de tomar decisões. Medo de amar, de criar, de viver. Medo de arriscar. Medo que serve de desculpa ao estaticismo, ao não subjugamento das forças do mundo com a nossa própria força de vida. Medo que por sua vez é desencadeado por uma simples e vergonhosa razão:  insegurança em nós mesmos, que deriva de uma subavaliação autodestrutiva que o indíviduo faz de si mesmo. Claro que falamos de algo bem enterrado, bem reprimido, sobre imensas e longínguas camadas de mecanismos de defesa, que se apresentam à superfície, com a ridícula notoriedade que verificamos todos os dias na nossa pobre sociedade.

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