Estirpe sonhadora e louca

Repito aqui a ideia, de que enquanto homens somos intelectualmente superiores comparativamente aos animais. E esta é a verdade irrevogável! No entanto, o homem tem vindo a provar a sua inferioridade moral face às restantes criaturas.
O desafio é fazer um uso governado da razão. E creio que toda a actividade contraproducente a esta premissa se prende com a luxúria de que possuímos, de facto, razão. Contudo, factualmente não a cumprimos. Isto é, o homem é um ser pensante, e prova disso, é a capacidade de distinguir o bem do mal. Porventura, tendemos cada vez mais, para o mal, para o fácil, para o cómodo e vil.
Reparemos que esta ideia é praticamente linear e proporcional a um enfraquecimento da nossa capacidade de sonhar. E ainda que, muitos o contradigam, o sonhar é o que permite ao homem ser homem. E como tal a aspirar ao domínio do incerto, onde a capacidade de superar condições nefastas, de desvendar o desconhecido e de soltar as amarras, se torna possível.
A incapacidade de nos tornarmos loucos, aproximou-nos, ironicamente ou não, dos animais, quais seres que se limitam a reagir.
Afinal o que nos torna humanos é a nossa estirpe sonhadora e louca, e não fazemos mais nada senão sonhar. Um sonho... consiste num olhar individualizado, atento na especificidade, mas que olha na globalidade.
A decadência do sonho prende-se com diferentes questões: uma delas, e com efeito, a que é reveladora e concretizadora do sonho, é o livro.
O livro é a expressão da realização da loucura do ser humano. Afinal é da busca pela sabedoria suprema que se alimenta o indivíduo, por primazia, personalizando-se.
A sabedoria permite ao homem tornar-se mais seguro, de ter confiança nas suas faculdades e na sua possibilidade realizadora, que só pode ser motivada pela loucura e pelo sonho. Ou então, o incerto nunca se tornaria certo, o indesvendável descortinado e a ignorância eliminada.
Eis o homem, indivíduo; o homem, nação; o homem, humanidade, que sonha! E que por crer, torna tudo possível.

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